Acompanhe o Otageek nas redes sociais
Gregório Duvivier e Igor Fortunato marcam segunda semana da MIT Catalão
Atores vêm à cidade para apresentarem duas peças, o primeiro com Sísifo, uma discussão moderna sobre a condição humana em tempos de memes e gifs, e o segundo, junto com o Grupo Carmin, para A Invenção do Nordeste, peça ganhadora do Prêmio Shell e do Cesgranrio. Gregorio também participa de uma noite de bate papo com o público sobre os motivos que o leva a trabalhar com teatro.
Os atores Gregorio Duvivier e Igor Fortunato chegam nesta semana para apresentações únicas em Goiás durante a segunda semana da Mostra Internacional de Teatro de Catalão (MIT Catalão). Gregorio também abre a temporada de bate-papos com o público, uma iniciativa da organização do evento para aproximar artistas e público e dialogar sobre o papel do teatro na sociedade.
Sísifo, um monólogo sobre o Brasil atual e hiperconectado, teve temporadas de sucesso em diversas capitais brasileiras e em Portugal. Já “A Invenção do Nordeste”, que também já rodou o Brasil para apresentar uma desconstrução da imagem estereotipada do nordestino, é vencedor do Prêmio Shell de melhor dramaturgia e do Cesgranrio de melhor espetáculo, entre outros.
A novidade desta semana é o início dos bate-papos com os artistas participantes da MIT Catalão. Na sexta-feira, dia 14, Gregório fica no centro do palco do Auditório Lívia Abrahão do Nascimento, na Universidade Federal de Catalão (UFCat) para primeiro responder sobre suas motivações e razões que o levaram ao teatro e também como seu trabalho se relaciona com questões contemporâneas e outras áreas de conhecimento. Assim como as peças na MIT Catalão, o evento é gratuito.
O “GIF FUNDADOR”
“Sísifo”, peça escrita por Gregorio junto com o diretor Vinicius Calderoni, é uma alegoria sobre os problemas atuais da sociedade que se inspira no mito grego homônimo e intercala 60 textos curtos com situações que envolvem o olhar tecnológico dos memes e gifs. A cena da pedra de Sísifo é, para Gregório e Vinicius, o “gif fundador”, o primeiro de todos, que se repete eternamente e que eles aproveitam para fazer importantes – e divertidas – reflexões dos tempos atuais.
Se na mitologia o Deus grego dos infernos é condenado à eternidade para empurrar uma pedra montanha acima só para vê-la caindo do topo à base, no espetáculo que a MIT Catalão traz para Goiás temos o ator subir uma rampa de 1,5 metro no palco para abordar diversos assuntos contemporâneos, como o momento histórico que vivemos no Brasil, suas distopias e o futuro que queremos.
Gregorio atravessa o palco de uma ponta a outra durante uma hora, subindo a rampa em movimentos diferentes, extravasando o que sente ao falar do Brasil atual, dos influenciadores digitais e das consequências por vivermos em um mundo com informações em excesso. Um trabalho de síntese que dá um significado mais profundo e reflexivo aos gifs e memes que vemos diariamente no celular.
A peça é a primeira colaboração teatral entre Gregorio e Vinícius, com texto assinado por ambos, interpretação do primeiro e direção do segundo. Os dois subvertem o sentido dos memes fazendo o público pensar em vez de agir roboticamente diante das cenas repetidas e compartilhadas nas redes sociais. Ao final, o mito grego entra como uma inspiração livre para uma peça ensaística e essencialmente contemporânea.
Gregorio é um dos criadores do Porta dos Fundos, o maior canal de esquetes do Brasil e um dos cinco maiores do mundo, e no teatro já venceu o prêmio Shell em 2005 por um projeto em conjunto com outros humoristas, e em 2013 o APTR de melhor ator. Tem participações no cinema e na televisão, inclusive como apresentador. Também é colunista e escritor. Vinicius desenvolve sua carreira entre o teatro, a música e o audiovisual. Já venceu o Shell de melhor autor e diversos APCAs. Na música, integra o grupo coletivo 5 a Seco.
ESTEREÓTIPOS EM DEBATE
O Grupo Carmin, de Natal (RN), abre a segunda semana de junho da MIT Catalão, com a apresentação da peça “A Invenção do Nordeste”, uma reflexão sobre as divisões sociais brasileiras e estereótipos criados sobre o povo nordestino, abordando a trajetória histórica da região em uma comédia crítica premiada.
Um dos atores que compõem o elenco é Igor Fortunato, que está na novela das seis da Rede Globo, “Riacho Fundo”, como Zé Beltino, o filho mais velho do casal interpretado por Andrea Beltrão e Alexandre Nero. Aos 31 anos, e tendo uma carreira também como músico e dramaturgo, Igor fez sua estreia na televisão após uma produtora da Globo notar sua performance na peça que chega à MIT Catalão nesta semana.
“A Invenção do Nordeste” estreou em 2017 e já rodou o país. A peça surgiu a partir de inquietações da diretora Quitéria Kelly a respeito dos ataques xenofóbicos aos eleitores nordestinos na reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Dilma venceu em todos os estados da região no segundo turno das eleições daquele ano. Prova de que a peça se faz ainda atual é que os ataques voltaram a se repetir com a vitória de Jair Bolsonaro, em 2018, e de Lula, em 2022.
A história gira em torno da seleção de um ator nordestino para interpretar um personagem nordestino. Dois atores são selecionados para a última etapa e durante o espetáculo refletem sobre a identidade e a história pessoal de cada nordestino, descobrindo não ser tão simples viver o personagem em questão. Um texto bastante crítico, mas bem humorado, baseado na obra homônima de Durval Muniz de Albuquerque Júnior.
O Grupo Carmin mergulhou fundo nos diversos mecanismos que levaram à formação de uma visão preconceituosa e reducionista do Nordeste. E isso fica evidente quando os atores na ficção mostram não ser possível existir apenas um perfil de personagem nordestino. Em 2019, foi uma das obras mais premiadas do teatro brasileiro.
SAIBA MAIS
A segunda edição da MIT Catalão começou agora em junho e vai até novembro. Ao longo de seis meses teremos várias peças com nomes consagrados do teatro nacional e do exterior, todas gratuitas. A mostra teve início com duas apresentações do grupo Magiluth, de Recife, nos dias 7 e 8 de junho. Estão previstos para os próximos meses espetáculos com Denise Fraga, o ator português Romeu Costa e grupos premiados como Galpão, de Belo Horizonte. Todos os espetáculos selecionados para a MIT Catalão são sucesso de público e crítica por onde passaram, muitos deles premiados ou finalistas de grandes prêmios.
Além disso, a MIT Catalão, está promovendo atividades formativas, com bate-papo, palestras e oficinas com os artistas convidados. A intenção é envolver o público em um processo reflexivo sobre as artes cênicas por meio de rodas de conversas com artistas e oficinas voltadas para a iniciação teatral.
Entre as apresentações internacionais, teremos o ator de novelas português Romeu Costa, a argentina Julia Sigliano, com seu premiado teatro de bonecos, que já viajou por países da América e Europa com a peça a ser apresentada em Catalão, a espanhola Pepa Plana e o português Marco Mendonça.
Leia também:
A MIT Catalão também terá espaço para conterrâneos. Neste ano está prevista para outubro a estreia do espetáculo “Esboço”, protagonizado pelo ator e pesquisador catalano Rafael Costa. Além da carreira como artista, Rafael é psicanalista e mestre em Psicologia e atua no diálogo entre arte e contextos psiquiátricos. Ele também já trabalhou coordenando ações teatrais com artistas em Catalão.
A expectativa deste ano é superar o público de mais de 3 mil pessoas que assistiram aos espetáculos da MIT Catalão em 2023. Por apresentar uma pluralidade de temáticas e diferentes teatralidades, com artistas de diversas partes do Brasil e de fora, a mostra atrai interessados das cidades próximas a Catalão, Goiânia e do Triângulo Mineiro.
A edição de 2024 da MIT Catalão foi pensada para ser de forma intercalada ao longo de seis meses para permitir uma adesão maior de diversos públicos, democratizando o acesso ao teatro e inseri-lo no cotidiano da população local. Em 2023, essa ideia já estava presente e a MIT durou três meses, sendo um sucesso de público e de crítica.
A MIT Catalão é um projeto aprovado pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura (lei federal 8.313/1991) e patrocinado pela CMOC Brasil e pela Serra do Facão Energia (Sefac). Também conta com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec) da Universidade Federal de Catalão (UFCat). A idealização, elaboração e realização do evento está nas mãos da Bricolagem Produções.
Os ingressos são gratuitos e podem ser acessados na página da MIT Catalão no Instagram: @mitcatalao ou diretamente na página do Sympla (https://www.sympla.com.br/produtor/mitcatalao). Os espetáculos serão todos no Auditório Paulo de Bastos Periloo da UFCat.
AGENDE-SE
- 13 de junho – 20h – Espetáculo A Invenção do Nordeste, com Grupo Carmin de Teatro (Natal)
- 14 de junho – 20h – Bate-papo Por que Teatro?, com Gregório Duvivier (Rio de Janeiro)
- 15 de junho – 20h – Espetáculo Sísifo, com Gregório Duvivier (Rio de Janeiro