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Festival Curtaflix | Entrevista com a curadora Andréa Cals
Andréa Cals é uma das curadoras do Curtaflix e, durante toda a sua trajetória, já participou de outros festivais, como a mostra Première Brasil e o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Por que a escolha de curtas nos quais os protagonistas não possuem todos os sentidos? Tem alguma história pessoal que a levou a fazer essa escolha?
Não. A escolha veio pelos filmes em si. Primeiro, eu pensei no Dreznika, que é um filme do qual gosto muito. A partir dele, fiquei imaginando que sessão poderia compor, então foram me ocorrendo esses outros que falam da ausência de algum dos cinco sentidos, mas onde essa ausência esteja totalmente preenchida de vida.
Teve algum curta que te chamou mais atenção? Por quê?
Não entendi bem a pergunta. Me chamar a atenção dentre todos que programei? Usei o tempo que nos foi dado para pesquisar, rever e lembrar de vários filmes. Então, cada filme selecionado roubou a minha atenção, por isso eu os escolhi.
Na questão de acessibilidade, como você vê que o cinema avança para garantir que todos possam desfrutar dos filmes?
Ah, acho que avançou bastante e não tem mais volta, vai ser daqui para melhor. Estar atento às necessidades alheias é um exercício que devemos fazer o tempo todo. Mas não é uma tarefa fácil. Primeiro, porque ainda estamos nos acostumando a incluir as necessidades das outras formas de comunicação (libras, audiodescrição, etc.) no orçamento, e sei que economicamente não é um serviço barato.
Depois, pensar a própria forma de apresentação em si. Como fazer com que seja fluido e harmônico, atendendo a todos? É possível ou é necessário ter sessões distintas? Seja como for, nenhum passo atrás.
Tanto na sessão dos curtas para ficarem na memória e curtas para assistir com todos os sentidos, há umas seleções que acabam sendo mais fortes. Por que a escolha desses projetos que podem causar um choque nos espectadores?
Porque os filmes são bons. Não é porque um assunto pode chocar que ele não deve ser apresentado. Vou contar uma coisa engraçada: uma vez, minha mãe, que tem 77 anos, faz o estilo religiosa e tal, estava me acompanhando num festival de curtas. Um dos filmes da sessão era quase um kamasutra de sexo entre dois homens, hahahaha.
Eu assistindo e olhando minha mãe de rabo de olho e ela calada, assistindo também. Ao final da sessão, não me contive, claro, e perguntei “E aí, mãe, o que você achou?” e ela respondeu “Didático, né, minha filha?“, hahahaha. Ou seja, o cinema é isso, é literalmente uma janela para outros mundos, outros olhares, outras formas de ser. E você pode fazer isso seguramente no conforto de uma cadeira. Se for o caso, pode até se levantar dela. Então, por que não?
Os curtas escolhidos por Andréa estão disponíveis no site do Curtaflix e são as sessões intituladas de “Curtas para assistir com todos os sentidos”, “Curtas para ficarem na memória” e “Curtas para quem quer ser cineasta”.
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