Festival Curtaflix | Entrevista com a curadora Ananda Guimarães

Ananda Guimarães é uma das curadoras do Festival Curtaflix. Graduada em Imagem e Som pela UFSCar (Universidade Federal de São Paulo), atua em produção de festivais de cinema e gestão de projetos culturais.

Ananda Guimarães - Divulgação Curtaflix
Ananda Guimarães, curadora do Festival Curtaflix.

Família e maternidade foram temas bastante trabalhados nos curtas das suas sessões. Houve um motivo em especial para a escolha dessa temática?

Tem razão, são temas bem trabalhados em duas das três sessões que programei para o Curtaflix. Na terceira sessão temos essa presença também no curta “Clairelumière”, da Carolina Gonçalves. Mas a minha escolha não passou exatamente por estas duas palavras, não conscientemente, mas acho interessante que defina desta forma. 

Em “Curtas que iluminam Forças de Mulheres”, a maternidade e a consciência da potência da ancestralidade está como mais um elemento de força. Na sessão para crianças, “Curtas para se tornar uma criança grande”, o meu foco foi trazer uma série de desafios do amadurecimento de forma divertida. Nesse momento delicado que estamos todos vivendo, imagino que seja natural que as grandes questões humanas ligadas às nossas origens e ao futuro (enquanto continuação da vida) estejam ocupando o nosso imaginário. 

Na sessão “Curtas para se tornar uma criança grande”, como você vê essa relação na qual os curtas eram direcionados para crianças, mas em algumas partes, de certa forma, até os adultos poderiam encontrar uma identificação?

Na minha opinião, esses curtas têm personagens muito bem construídos, que enfrentam seus conflitos às vezes sozinhos, em pares ou em grupos. A gente envelhece, mudam alguns temas, mas a forma de enfrentar, de lidar com os dilemas e se conectar com outras pessoas, pode ser muito similar. 

No geral, a mesma obra audiovisual pode trazer algumas camadas de significado, que se aprofundam de acordo com o olhar e a vivência do espectador, mas ele precisa estar aberto à narrativa infantil. Nesta sessão, pensei em filmes nos quais os adultos pudessem localizar elementos que estimulem boas conversas com as crianças, e me parece que o reflexivo Bruno de “Virando Gente”, a dupla Teca e Tuti, Caíque e o amigo carismático, os pequenos líderes de “O Fim do Recreio” e a turminha da Escola Filhote Selvagem seriam ótimos anfitriões nessa jornada.

Há algum curta que te chamou mais a atenção? Por quê?

É difícil selecionar um entre tantos trabalhos que admiro, pois cada um cumpre um papel ou me acessa de uma forma. Mas já que estamos falando de um projeto essencialmente on-line, que é o Curtaflix, vou listar os filmes que exibi presencialmente na Mostra MOSCA e que causaram bastante impacto no público:

 “A Piscina de Caíque” e “O Fim do Recreio” geraram falas muito empolgadas e engraçadas das crianças tanto na sala de cinema quanto em sessões em escolas. “O Menino Leão e A Menina Coruja” foi o vencedor da 12ª MOSCA (2019) pela escolha da audiência.

Na sessão “Curtas que iluminam forças de mulheres”, o curta “Antonieta” iluminou a história dessa figura tão importante para a educação e gerou um debate importante. “FotogrÁfrica”, por sua vez, é o curta pelo qual Tila Chitunda inicia um trajeto audiovisual na busca por sua ancestralidade que deu origem à sua pentalogia NOME DE BATISMO, na qual já realizou dois de cinco filmes que não estão nesta sessão, mas foram exibidos e premiados em grandes festivais. Vale muito buscá-los também.

Em “Curtas que atravessam universos” temos trabalhos mais antigos que resgatei na memória e também o mais recente entre os filmes que programei, que é o “Oceano”. Três filmes da sessão receberam prêmios pelo voto do júri popular tanto no MOSCA, festival que dirijo e acontece no interior de Minas, quanto no Animamundi, ou seja, são filmes que se comunicam com os públicos mais diversos. Os curtas são: “Linear”, “Graffiti Dança” e “Guida”, dirigido pela Rosana Urbes, que também é curadora do Curtaflix.

Além da identificação por parte dos telespectadores, houve algum curta no qual você pode ter uma identificação?

Vou ter que recorrer à sua primeira pergunta, quando citou o tema da maternidade para dar aquela resposta clichê: todos eles, de diferentes formas. Mas falando sério, quando programo uma sessão, busco filmes que possam se complementar na narrativa ou que possam apresentar formas diferentes de elaborar sentimentos similares. Sendo assim, fica difícil escolher uma obra entre todas. E me parece que esse é o interessante do Curtaflix e do trabalho de programador, uma vez que a maior parte destes filmes já estavam disponíveis na internet, e nossa tarefa é juntá-los para oferecer uma experiência diferente aos espectadores.

Os curtas escolhidos por Ananda Guimarães estão disponíveis no site do Curtaflix e são as sessões intituladas de  “Curtas que atravessam universos”, “Curtas para se tornar uma criança grande” e “Curtas que iluminam forças de mulheres”.

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