Entrevista | Carolina Castilho fala sobre processo criativo do curta “Alcateia”

Para se manter fiel à mensagem de empoderamento feminino que o filme traz, a equipe é majoritariamente formada por mulheres e essa união com certeza foi fator decisivo para que o filme de fato acontecesse”, diz Carolina Castilho, diretora do curta-metragem Alcateia (2020). O filme conta a história de um grupo de mulheres que se unem contra a violência doméstica sofrida por uma delas.

Carolina Castilho revela que o projeto foi o seu primeiro filme fora do ambiente universitário e que se inspirou no livro Mulheres que correm com lobos para a realização do curta. Alcateia foi exibido no festival brasileiro de curtas-metragens e Direitos Humanos ENTRETODOS, que aconteceu entre os dias 13 e 26 de setembro deste ano. O filme concorreu na mostra competitiva na categoria “Somos muitas e muitos”.

Confira a entrevista na íntegra!

Cena de Alcateia, de Carolina Castilho, com mulheres em roda.
Cena de Alcateia.

Otageek: Como foi a experiência de filmar Alcateia?

Carolina Castilho: Foi uma experiência enriquecedora! O Alcateia foi o primeiro filme não universitário que dirigi e isso me permitiu ter mais tempo de estudar o tema proposto e ter a liberdade de experimentar mais, tanto técnica quanto artisticamente. Foi um grande aprendizado e sinto que amadureci enquanto diretora.

Otageek: Como foi o processo de desenvolvimento do curta?

Carolina: Em 2017 eu li o livro Mulheres que correm com os lobos, da autora Clarissa Pinkola Estes. Na época, eu achei a mensagem do livro muito potente e quis transformar em audiovisual. Em 2018 eu desenvolvi o projeto e passei praticamente o ano todo tentando um financiamento ou apoio cultural, o que infelizmente não rolou.

Até então, a equipe já havia sido formada e em 2019 nós decidimos seguir de forma independente, contando com o apoio de equipamentos, locação e alguns objetos de arte. Para se manter fiel a mensagem de empoderamento feminino que o filme traz, a equipe é majoritariamente formada por mulheres e essa união com certeza foi fator decisivo para que o filme de fato acontecesse.

Otageek: Qual foi sua maior dificuldade em filmar e produzir o filme?

Carolina: Acho que a maior dificuldade foi o orçamento baixíssimo, limitando um pouco a produção. Mas isso não impediu que o filme saísse exatamente como estava no storyboard. Cada um da equipe contribuiu de forma excepcional e o set teve um fluxo excelente. Não tivemos imprevistos e eu considero que o resultado saiu 100% como o planejado. Sou muito grata a toda a equipe, elenco e a todos que colaboraram.

Cena de Alcateia, de Carolina Castilho, com um quadro de um anjo.
Cena de Alcateia.

Otageek: Como surgiu a ideia de explorar os conceitos de paganismo e sagrado feminino no filme?

Carolina: O filme foi inspirado no livro de Clarissa Pinkola, que é uma análise junguiana sobre o processo de formação do arquétipo feminino traduzida em contos populares. Eu queria que a mensagem do filme fosse decodificada tanto por pessoas que leram o livro quanto por pessoas que não o leram.

Por isso, o filme tem esse equilíbrio de símbolos que são associados ao processo de purificação, que vem do sagrado feminino; e a discussão de direitos humanos, que é a violência doméstica, infelizmente presente/frequente no cotidiano.

Otageek: Você se inspira em alguma diretora para realizar o seu trabalho? Quais?

Carolina: Eu sempre me inspirei muito no cinema nacional para realizar meu trabalho de direção, então diretoras como Petra Costa, Lais Bodanzky, Juliana Rojas e Julia Murat são cineastas que me inspiram.

Cena de Alcateia, de Carolina Castilho, com mulher olhando triste pra baixo
Cena de Alcateia.

Otageek: Alcateia também aborda o conceito de sororidade. De que forma podemos falar sobre sororidade e feminismo em uma sociedade que ainda não entende esse tema e tem uma concepção errada sobre?

Carolina: Eu acho que justamente por ser um tema tão importante e difícil de ser praticado, nós precisamos ter mais referências em filmes, livros, novelas, nas artes e nas mídias em geral. A referência quando inserida em um contexto despretensioso viabiliza a discussão e quebra a barreira da ignorância e o tabu.

Otageek: Agora durante o período de quarentena, o feminicídio aumentou em 22% e o Brasil ocupa a 5ª posição no ranking de países com maior número de casos de violência doméstica. O que você diria para as mulheres que estão sofrendo com essa situação?

Carolina: Eu diria para procurarem ajuda de pessoas em quem confiam, principalmente outras mulheres. Essa ajuda pode vir de dentro da família, da comunidade ou de um centro de acolhimento. Mas, seja como for, se cerquem de pessoas que irão te fortalecer e reajam!

Entrevista realizada pela jornalista Sabrina Ventresqui

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