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Crítica | Um Corpo Elétrico que se move por São Paulo
Na trama de Corpo Elétrico temos Elias (Kelner Macedo), um jovem que migrou do nordeste do país para São Paulo. Sua rotina é dividida entre o trabalho em uma fábrica de confecção de roupas e encontros casuais com homens.
Na fábrica em que trabalha, as responsabilidades aumentam à medida em que o fim de ano se aproxima. Depois de uma noite fazendo hora extra, Elias e seus colegas de trabalho decidem sair e tomar uma cerveja. É quando novas possibilidades surgem no horizonte de Elias.
Crítica sem spoilers
Antes de falarmos sobre o filme, é importante lembrar que Corpo Elétrico conquistou diversos prêmios, como 32º Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, em 2017, no México, por Melhor Filme; Rotterdam International Film Festival, em 2017; San Sebastián International Film Festival, em 2017; São Paulo Association of Art Critics Awards, em 2018, onde levou o Troféu APCA de Melhor Filme, e Zinegoak Bilbao International GLT Film Festival de 2018, no qual ganhou o Prêmio do Juri de Melhor Filme.
Corpo Elétrico, então, é uma obra que merece um olhar com atenção, assim como qualquer outra produção nacional merece ser valorizada. O nome do filme vem do poema de mesmo nome, que celebra a diversidade de corpos e a busca da beleza em todos os corpos.
O que faz muito sentido partindo da premissa de que o filme, apesar de utilizar Elias como protagonista, fala muito sobre como esses corpos são os mesmos corpos que carregam desejos e camadas e se propõem a discutir o amor de uma forma não romântica.
Assim, Elias dá vazão aos seus desejos, abraçando-os e reconhecendo-os, sendo afetado a cada interação e conduzindo os personagens da trama a partir desses contatos, que nem sempre são sexuais. Um dos pontos altos do filme com toda certeza é a sua honestidade em demonstrar o afeto que existe muitas vezes entre pequenos grupos de funcionários de empresas.
Sabe aquela senhora carinhosa que trabalha ou já trabalhou com você e levava bolo de cenoura para café da manhã? Ou aquele seu colega de trabalho que oferece um cafezinho ou te convida para tomar uma cerveja depois do expediente? Esses são exemplos de relações genuínas de afeto que acontecem quando se frequenta um ambiente de contato diário com as mesmas pessoas. É algo genuíno e familiar.
Corpo Elétrico cria com muita maestria essa atmosfera, pois você vê muita honestidade e humanidade nos personagens. Esse é um mérito da direção de elenco e dos atores, que aqui são coautores, e muitos diálogos surgem com naturalidade em cena nesses momentos.
A cidade de São Paulo, aqui, não é apenas um pano de fundo, e sim uma personagem muito importante para o rumo que a trama toma. A trama em si não é nada mirabolante, é apenas a rotina e a realidade do proletariado LGBTQIA+, bem como eles se expressando com outros grupos e dentro da própria comunidade.
O filme também apresenta nomes importantes do meio, como Márcia Pantera e Linn da Quebrada, as quais fazem parte do elenco e colaboram para mostrar mais da cultura queer, que é desconhecida por muitas pessoas heterossexuais.
Ainda assim, Elias é o responsável por conectar todos os personagens na narrativa e mostrar o natural entre as relações humanas. E por falar em relações humanas, o personagem Wellington (Lucas Andrade) brilha no filme quando está em tela, exaltando a liberdade e soberania da bicha negra e afeminada.
Por fim, o filme também consegue levantar críticas às relações de classes no Brasil e vai além ao contar uma história envolvendo personagens queers que não abarque contextos de repressão ou finais trágicos.
Marcelo Caetano entregou um cinema como ato político, ao mostrar corpos que não são vistos e trazer a importância da vida cotidiana do proletariado para lembrarmos que essas pessoas existem. O filme continuará sendo a voz de inúmeros jovens/adultos que buscam por um futuro melhor em São Paulo e lá precisam encontrar um lugar onde se sintam acolhidos, onde possam ser corpos elétricos.
Confira o trailer do filme:
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