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Crítica | “Uma Vida Pequena” de Hanya Yanagihara
Comecei a ler Uma Vida Pequena, de Hanya Yanagihara, totalmente alheia ao que me aguardava. O livro foi um sucesso em 2015 – seu ano de lançamento – recebendo elogios da crítica e prêmios; fazendo o público se dividir entre admiradores e questionadores.
No começo, fui apresentada a um grupo de quatro amigos próximos e totalmente diferentes um do outro, que se mudam de Massachusetts para Nova York em busca de oportunidades e uma vida melhor: JB, um pintor que sonha em prosperar, ama sua família e é amado; Malcolm, um arquiteto que ainda não encontrou seu objetivo e se sente desprezado pelos pais; Willem, um aspirante a ator generoso que corre atrás de seu sonho e Jude, um advogado brilhante e misterioso.
Primeiramente, eu gostaria de avisar que esse livro não tem uma leitura agradável. Porém, isso não significa que é um livro ruim, muito pelo contrário, apenas não é um livro para todo mundo.
Não há menção a acontecimentos históricos, personalidades políticas e culturais ou coisa alguma que poderia colocar a narrativa em um ano especifico, tornando o livro eternamente no presente.
Em sua maior parte, ele é narrado em terceira pessoa, porém transita para a segunda e até mesmo para a primeira, mas o último acontece apenas nas partes de um personagem específico.
Viajamos no tempo em uma narrativa não linear: estamos no presente, na adolescência dos personagens, acompanhando a vida acadêmica daqueles quatro amigos e, de um capítulo para outro, continuamos no presente, mas agora na vida adulta dos mesmos e, em outros diversos momentos, nos vemos de volta para o passado.
O sofrimento exposto no livro é tão demasiado que a leitura chega a ser quase sádica.
Yanagihara faz um trabalho importante e admirável retratando como o trauma de uma vitima de abuso sexual, psicológico e físico é atemporal. A autora apresentou a vida de uma pessoa que sofre com transtornos mentais e sua angustiante luta para sobreviver dia após dia, sem romantizar e/ou diminuir a situação.
“Uma Vida Pequena” não é um livro para todo mundo, nem mesmo um livro que eu colocaria em uma lista de recomendações. É uma obra que pede para ser lida com a mente aberta e o coração preparado, que pede por empatia e paciência, que pode te transformar. São 784 angustiantes páginas. Dizer que não tem felicidade nessa história seria um exagero, mas a leitura é sofrida e é preciso deixar isso claro.
Os assuntos sensíveis abordados dos quais se faz necessário avisar são pedofilia, prostituição infantil, estupro, automutilação, violência doméstica, violência psicológica e suicídio. Coisas que temos ciência de que, infelizmente, acontecem, mas devo admitir que em meio à leitura me vi próxima à incredulidade, e lembrar de que tais coisas de fato acontecem em nossa realidade foi e é desesperador.
Não posso dizer que esse foi o melhor livro que já li, não me diverti lendo e não leria novamente, mas posso dizer sinceramente que não me arrependo– sinto que aprendi muito com essa leitura, como o valor de uma amizade, o impacto que uma pessoa pode ter na vida de outra, a construção da confiança, a cautela necessária que temos de ter com os outros e muitas vezes pecamos, a importância em ouvir o que alguém tem para falar, morais, preferências, objetivos e privilégios.
Frequentemente esqueço os nomes de personagens dos livros que li, confundo o enredo e sou obrigada a refrescar minha memória. Todavia, acredito que isso não vai acontecer com “Uma Vida Pequena“, pois sinto que esses personagens e suas histórias são difíceis de esquecer.
“Você pode não entender agora, mas um dia entenderá: o único segredo da amizade, acredito eu, é encontrar pessoas melhores que você, não mais inteligentes, não mais bacanas, mas sim mais bondosas, mais generosas e mais piedosas, e tentar dar ouvidos a elas quando dizem algo sobre você, não importa o quanto seja ruim, ou bom, e confiar nelas, o que é a coisa mais difícil. Mas também a melhor.”
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