Crítica | Pablo Larraín traz Diana mais íntima em Spencer

Eterna Lady Di, a Princesa de Gales é despida do luxo de ser parte da Família Real Britânica em Spencer.

Spencer é um conto encantador sobre uma pessoa ordinária com conflitos extraordinários: Diana, uma estrangeira em sua própria família, incapaz de se encaixar nas normas ultrapassadas da Família Real Britânica. É a promessa que Pablo Larraín faz com esse filme: mostrar quem a Princesa de Gales era por trás desse título que, para a vida real, pesou toneladas, além da briga com a imagem pública que deveria exibir, conflito que custou sua própria vida.

Antes de me aprofundar na história, é inevitável comentar como experienciar a direção de fotografia da francesa Claire Mathon (responsável também por Retrato de uma Jovem em Chamas) é vivenciar obras estáticas de arte ganhar vida. Cada frame poderia ser emoldurado e exibido no Louvre pela delicadeza e qualidade de certa fragilidade que impõe a quem e o que está em evidência na cena, fragilidade essa que funciona muito bem tanto para situar uma Diana oprimida pelos arredores quanto a força da natureza que ela era como mãe e mulher.

O filme se passa nos três dias em que a Família Real se reúne para as festividades de Natal. Três dias é o suficiente para ver como a nobreza fez dela um fantoche entrelaçado em suas cordas, na altura em que o filme começa já com os sonhos de contos de fadas destruídos. É como se pegássemos uma história na metade e não soubéssemos onde ela vai parar.

Seus transtornos alimentares e de imagem são retratados com seriedade e a importância que tiveram em sua vida. O filme me conquistou quando ficou estabelecido que nenhum personagem seria vilão ou culpado pelos pesares da protagonista, mas sim todos seriam parte de uma peça cumprindo seu papel e esperando que Diana pudesse fazer o mesmo. A imprensa também possui ênfase nos conflitos, uma referência a como sua história terminou em tragédia.

Além de Diana, temos três personagens essenciais para a trama. O primeiro é Gregory (Timothy Spall), servo da Família Real cuja figura transmite incerteza para o espectador: estaria ele tentando moldá-la para ser a esposa e princesa ideal, ou estaria ele protegendo-a de si mesma. A segunda é Maggie (Sally Hawkins), responsável por vestir Diana, com quem mantém uma relação de amizade íntima e de cumplicidade.

Maggie é quem constantemente a lembra de quem é, mantendo seus pés no chão quando ela está prestes a se perder. Ela é a personificação do amor que o povo tinha por Diana. A terceira é Ana Bolena (Amy Manson), que supostamente é antepassada da família Spencer-Churchill. Diana se reconhece na história da rainha, vítima de uma trama em sua própria família, que culminou em sua decapitação. Ana Bolena representa sua força e fragilidade simultaneamente.

Em meio aos seus conflitos, a Princesa de Gales tenta se manter unida aos filhos quando percebe que eles também são apenas fantoches de regras arcaicas e que nunca estariam livres, assim como ela não se sente livre. Diana ganha poder em sua família de verdade, aqueles que se importam com sua felicidade acima de tudo. E é esse poder que encaminha o filme para um final delicioso em que Diana rouba os filhos para serem crianças normais, fazendo coisas normais, libertando-se ao som de Mike & The Mechanics: All I Need is a Miracle.

É seguro dizer que Diana não é o papel da carreira de Kristen Stewart, mas certamente é uma exposição do quão longe ela pode ir. Sua interpretação, ainda que estática em alguns momentos, traz sabor para um filme monótono. Incomoda um pouco a forma como ela parece se apoiar no sotaque com tanta força que não há espaço para explorar nuances em suas falas, mas isso não enevoa o brilhantismo que ela traz para a composição fílmica. Assim como Larraín acertou com Natalie Portman em Jackie, tem mais um acerto com Stewart em Spencer.

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Clara Lima
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