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Crítica | “Sorria 2” é horror que faz jus à força simbólica dos sorrisos
“Sorria 2” foi uma surpresa para mim, especialmente levando em conta minha insatisfação com o primeiro filme, que marcou a estreia de Parker Finn na direção de longas-metragens. Inspirado por obras como “O Chamado” (2002) e “Corrente do Mal” (2014), o original captou os olhares do público com uma premissa intrigante: em uma atmosfera de horror, um simples sorriso desencadeava uma cadeia de transmissão contagiosa, levando seus infectados ao limite. No entanto, o potencial dessa ideia acabou sendo subaproveitado, já que a história se apoiou em sustos fáceis que não fizeram jus à força simbólica dos sorrisos.
Agora, dois anos após o lançamento do primeiro, a continuação chega aos cinemas mantendo a proposta da cadeia contagiosa. Contudo, desta vez, a execução é mais precisa e eficaz. Se no filme anterior Finn tentava explorar as questões psicológicas de uma protagonista pouco cativante, em uma abordagem semelhante a “O Babadook” (2014), nesta sequência, a entidade maligna ganha uma nova dimensão, funcionando como uma metáfora mais sólida e envolvente, que reforça e debate as angústias internas da protagonista.
A ideia de explorar uma artista pop com características que evocam figuras como Lady Gaga e Katy Perry abre um vasto leque de possibilidades. À medida que questões psicológicas entram em cena — considerando especialmente o impacto da indústria do entretenimento, que muitas vezes desencadeia problemas mentais em suas estrelas — esses conflitos se tornam um elemento poderoso na trama, intensificados pela presença da entidade maligna. Assim, a fusão entre o glamour da música pop e os tormentos psicológicos cria um contexto rico e perturbador, ampliando a profundidade da narrativa, ainda que Finn assuma uma posição moralista em relação a essas questões, especialmente no que diz respeito à dependência.
Skye Riley (Naomi Scott), uma artista pop marcada por um passado de dependência química e pela superação de um trágico acidente de carro que vitimou seu ex-namorado, enfrenta seus próprios demônios enquanto a pressão em torno de seu retorno aos palcos aumenta progressivamente. Sob a direção de Finn, a construção de mitos midiáticos a partir da perspectiva pública é trabalhada com maior rigor. Quando Skye é apresentada pela primeira vez, é por meio da câmera que exibe sua participação em um programa de TV, permitindo que os espectadores — em uma visão semelhante à dos fãs — acompanhem sua vida por um olhar diferente.
Gradualmente, o público é convidado a conhecer o lado mais íntimo de Skye, vivenciando sua ansiedade e angústia — seja pela constante pressão de uma agenda rigorosa, pelas questões mal resolvidas de seu passado ou pelas ilusões que começam a emergir. Finn demonstra grande habilidade ao explorar a linha tênue entre o real e o ilusório, conectando essas dimensões às questões psicológicas da protagonista, que parece estar em uma jornada sem perspectivas de vitória.
Diferentemente de seu predecessor, o horror em “Sorria 2” se manifesta de maneira mais concreta por meio da violência gráfica, na qual os códigos do gênero são explorados com maior cuidado e liberdade. As referências ao body horror, os movimentos performáticos quase dançantes e a escolha da trilha sonora contribuem para intensificar as emoções evocadas pelos elementos do terror. Até mesmo os jump scares são empregados por Finn com precisão e um aguçado senso de timing, evitando o uso gratuito.
Ao longo da narrativa, a entidade se funde com Skye, transformando-a em seu instrumento, controlando seus atos e conduzindo-a lentamente à loucura. Em determinado momento, a artista cria a ilusão de estar no comando de sua própria vida. No entanto, a entidade a faz perceber que o verdadeiro poder não está em suas mãos. Seu corpo, enquanto popstar, torna-se apenas um veículo para que a entidade atinja outras vítimas, reafirmando sua supremacia sobre Skye e todos ao seu redor.
Confira o trailer de “Sorria 2”:
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