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Crítica Sem Spoilers | Amor e Monstros, novo filme da Netflix
Estreiou nesta quarta-feira (14/04) o filme Amor e Monstros, produzido pela Paramount e distribuído pela Netflix. O longa pós-apocalíptico traz Dylan O’Brien no papel principal e é capaz de transitar entre diversos gêneros, além de saber rir de si mesmo e abraçar suas referências.
Amor e Monstros conta a história de Joel, um rapaz romântico e inofensivo que vive há 7 anos em uma colônia de sobreviventes em um mundo pós-apocalíptico. Logo nos primeiros minutos ele nos explica que, para se livrar de um asteroide que iria se chocar contra a Terra, os humanos lançaram vários foguetes para destruí-lo, o que liberou gases tóxicos que geraram mutações em todos os seres de sangue frio, transformando-os em monstros, que por sua vez, acabaram com 95% da humanidade.
Porém, Joel está determinado a sair em busca de sua antiga namorada, mas para isso terá que sobreviver sozinho a 7 dias de viagem, mesmo sem ter qualquer experiência em se defender ou viver na natureza.
Quando vemos de longe, ele tem uma cara de “filme que já vimos antes”, mas consegue driblar os clichês do gênero, ora trazendo reviravoltas inesperadas, ora utilizando desses clichês a seu favor.
A primeira coisa que o longa nos comunica é que você não deve se preocupar com coisas superrealistas: Joel é um cara que não sabe nada sobre sobrevivência e, mesmo assim, sai em uma jornada sozinho, com uma arma caseira e sem se preocupar com comida. Verossimilhança não é o ponto que o filme está tentando atingir. Então, e daí se a tecnologia apresentada é irrealista?
Defendendo isso, toda vez que o personagem é questionado sobre o motivo para ter deixado a segurança da sua colônia, as pessoas assumem que é porque ele roubou comida. Mas a reação de Joel é sempre a mesma: ele não entende essa fixação que as pessoas têm com comida. Isso porque esta não é uma das preocupações do seu personagem (e, portanto, do filme). Mas é uma questão que seria importante em um projeto mais sério e tenso sobre o fim do mundo.
E seguindo esse caminho, Amor e Monstros toma liberdade para zoar um pouco a si mesmo e ao gênero pós-apocalíptico, principalmente através da desastrosa inabilidade de Joel para lidar com os monstros.
Apesar de lembrar um pouco filmes como Zumbilândia, até mesmo com o guia de sobrevivência que Joel vai fazendo ao longo da história, semelhante às regras de Columbus, o filme da Netflix não assume um tom tão cínico quanto o estrelado por Jesse Eisenberg. Esse último se mantém exclusivamente em torno de seu humor ácido.
E Amor e Monstros não se entrega puramente à comédia para poder transitar mais facilmente entre outros gêneros, podendo, assim, construir com mais destreza cenas de tensão e perigo e também outras muito emocionantes.
O filme dirigido por Michael Matthews pega inspirações de todos os lados da cultura pop, mas sabiamente abraça isso, transformando o que poderia ser uma fraqueza em um ponto forte. Por exemplo, a semelhança do cenário e do nome do protagonista com o jogo The Last of Us, que o filme apenas reforça ao fazer o caminho de Joel se cruzar com o caminho de um homem mais velho (interpretado por Michael Rooker) e de uma menininha.
Temos também seu tema de amadurecimento, que sempre remete a um dos pioneiros no assunto, o filme Conte Comigo, de 1986: na cena em que um robô toca uma música para Joel, a canção escolhida é Stand By Me.
Mas claro que o filme não é perfeito: uma coisa que pode incomodar um pouco são as explicações desnecessárias quando o personagem percebe algo, já que o filme vem dando as dicas para os telespectadores o tempo todo, permitindo que cheguemos à mesma conclusão que Joel sem que ele precise nos falar.
Além disso, o personagem Boy, o cachorro que acompanha o protagonista durante grande parte do filme, provavelmente é o cão mais inteligente do mundo, o que facilita diversas situações para o jovem rapaz. Mas, novamente, isso não atrapalha o filme, pois este já deixou estabelecidas as regras do que é plausível ou não neste universo.
Graças à origem dos monstros, o pessoal dos efeitos visuais pode brincar à vontade na hora de construí-los, tendo uma imensidão de formas, cores e texturas para escolher. E isso causa real aflição (não medo, imagine uma barata gigante tentando te devorar, é bem nojento) em todos que assistem. Não a toa o filme está competindo na categoria de Efeitos Visuais do Oscar 2021.
E esta aflição é perfeitamente estampada no rosto de Dylan O’Brien, que é muito expressivo e, através de suas feições, consegue nos deixar ainda mais angustiados. O ator também se dá muito bem interpretando cenas que não contam com a presença de outros humanos, já que na maior parte do filme ele contracena com o cachorro ou com monstros de CG.
Por fim, o filme mantém um ritmo bem acelerado, tanto em ação como em enredo. O único momento mais tranquilo é durante a apresentação, para podermos entender como funciona aquele mundo, já que o roteiro vai inserindo diversas reviravoltas desde o momento em que Joel deixa a colônia até os últimos minutos da aventura.
Amor e Monstros chegou meio despercebido, mas foi uma surpresa muito boa. Um filme leve, mas que nos prende e entretém de forma muito eficiente. Contando com uma dupla de protagonistas encantadores (Joel e Boy), pode não se tornar o filme preferido da maioria das pessoas, mas dificilmente decepcionaria alguém que decidisse assisti-lo.
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