Crítica | Quem Matou Eloá – Curtaflix

O curta Quem matou Eloá traz em formato de documentário uma discussão muito importante sobre o feminicídio, a violência contra a mulher e como sociedade e mídia transformam a visão de seus telespectadores, que desumanizam toda a situação.

Poster do Filme curta metragem Quem Matou Eloá trazendo uma imagem desfocada da vitima Otaggek
Pôster do filme Quem Matou Eloá.

Começamos o filme vendo fragmentos do que foi noticiado na época sobre o sequestro de Eloá por Lindemberg. Nossa primeira discussão trabalha a questão do tumultuado término de relacionamento dos dois.

Eloá, de 15 anos, e Lindemberg, de 22, viviam terminando e reatando, mas na última vez a jovem escolheu não mais voltar com o rapaz. Isso fez com que ele começasse a persegui-la, chegando a agredi-la fisicamente em um ponto de ônibus.

A família não registrou queixa e muitos questionaram o porquê de ela não aceitar voltar com ele, trazendo uma roupagem de “crimes de amor”, que abre um grande questionamento sobre amor, possessão, obsessão e controle.

O Absurdo

Aqui o questionamento é claro: por que a mulher seria obrigada a se relacionar com um homem violento porque ele a “ama”? Por que a vítima… sim, Eloá estava nessa posição, tinha que ser obrigada a estar com alguém que a agrediu e várias vezes depois agrediria de novo, pois ele a amava?

Veja bem, parece claro aqui o absurdo da ideia, mas quantas vezes já não vimos situações similares em relacionamentos abusivos, em que a agressão corria solta mas que “por ele ser um bom rapaz, trabalhador, por ele te amar” seriam justificadas tais ações.

Outro ponto de grande força nessa tragédia a ser analisado é o comportamento das mídias perante o sequestro, transformando tudo aquilo em um grande filme de ação, focando tanto em audiência que por vezes atrapalhava a negociação.

Crimes de Amor?

A polícia, que em muitos momentos faz escolhas questionáveis, fica cada vez com maior dificuldade em negociar a liberdade de Eloá e Nayara, sua amiga e também refém, dando preferência à saúde de Lindemberg, pois, afinal, ele era um bom rapaz.

A mídia, em muitos momentos, transforma o foco, tornando o sequestrador a figura principal e por vezes esquecendo da jovem, mostrando o quanto ele era um bom jovem e que tudo isso era um ato de desespero motivado por amor.

Novamente ponho em cheque essa fala: o quanto o “amor” de alguém justifica pôr outra vida em risco? Ele se diz frio e sem sentir nada, então que amor é esse que não quer o bem do ser amado, que não se importa em torturar, agredir e matar?

Aqui devemos lembrar que muitos casos de agressão doméstica e feminicídio são cometidos por pessoas sem antecedentes criminais, trabalhadoras e tidas como bons cidadãos pelas pessoas que estão fora do relacionamento.

A Inversão de Papéis em ‘Quem Matou Eloá’

Em muitos pontos temos a inversão de papéis, em que a vítima é colocada em cheque, como se a mesma tivesse feito algo para “merecer” esse tipo de agressão e, por fim, sua própria morte.

Vítimas de vários crimes são questionadas como responsáveis pelos danos que sofreram. Em nosso país, são até mesmo julgadas como culpadas de uma violência por serem apenas mulheres.

A mídia deu voz e protagonismo a Lindemberg e, com orgulho, ele se sentia no centro de todas as atenções, tendo seu momento de fama e confiança para seguir com seus planos.

Todos esses pontos levaram a um fim trágico, culminando na morte de Eloá e seu enterro, que 40 mil pessoas foram assistir como o fim de uma novela e o desfecho desse desastre.

O Gosto Amargo

O curta encerra trazendo vários takes de notícias que mostram casos de violência contra a mulher e, por último, apresenta os nomes de várias vítimas que morreram em nosso país.

Toda essa análise e revisitação do caso em ‘Quem matou Eloá’ deixa um gosto amargo, afinal, não existe apenas um culpado pela morte dela e de tantas outras mulheres pelo mundo afora. Isso é uma construção de fatores que precisam ser repensados.

A discussão sobre a violência e o feminicídio é muito maior do que entre vítima e algoz, é também sobre as construções culturais que ainda se mantêm em nossa sociedade.

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É sobre o machismo e o “papel da mulher” em nossa sociedade, seu corpo, seus sentimentos… tudo precisa ser desconstruído para que crimes como esse, crimes ditos como de “amor”, não façam mais sentido nenhum e sejam simplesmente a barbárie que realmente são.

Esse assunto não tem como ser finalizado nesta crítica ou no próprio curta ‘Quem Matou Eloá’ por sua amplitude e importância, então indico fortemente que você leia mais e discuta mais sobre o assunto.

Ficha Técnica

Direção: Lívia Perez 

Produção: Giovanni Francischelli, Fernanda De Capua 

Fotografia: Cris Lyra 

Elenco: Analba Teixeira, Esther Hamburger, Ana Paula Lewin, Elisa Gargiulo, Augusto Rossini 

Roteiro: Lívia Perez 

Montagem: Cris Müller, Lívia Perez 

Arte: André Menezes 

Som: Clara Cervantes

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Luna | A Patroa da Redação
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