Acompanhe o Otageek nas redes sociais
Crítica | Não, não olhe! (NOPE) subverte a expectativa do espetáculo de Jordan Peele
“Vou jogar sujeira sobre você, tratá-lo com desprezo e transformá-lo em espetáculo”. Assim começa Não, não olhe! (NOPE), novo longa de Jordan Peele protagonizado pelos irmãos Haywood: OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald (Keke Palmer), que passam a administrar a fazenda de locação e treinamento de cavalos para produções de cinema de sua família, em uma localidade isolada no interior da Califórnia.
Crítica com spoilers
A terceira produção de roteiro e direção de Jordan Peele chegou aos cinemas nacionais em 25 de agosto, surpreendendo pela subversão da expectativa criada em cima de filmes envolvendo aliens, o medo do desconhecido, a cultura do espetáculo e outras leituras que podem ser trazidas para a superfície destrinçando o longa e seus signos.
Não, não olhe!, ou como é chamado em seu título original NOPE, é um daqueles filmes que quanto menos souber antes de assistir, melhor é sua primeira experiência com a obra, mesmo que você tenha assistido aos trailers, sua montagem consegue camuflar e instigar a continuar envolvido na trama.
Situações reais como bases para o roteiro
O filme tem como base dois casos reais relacionados a cultura do espetáculo, o primeiro apresentado é “O cavalo em movimento” (1878), que se trata de sequência fotos de um cavalo montado por um homem negro, considerada uma das primeiras películas cinematográficas e o caso do ataque do chimpanzé Travis, que foi usado como atração e feriu gravemente uma pessoa.
Ao lado da dupla de irmãos, no elenco principal temos Brandon Perea como Angel Torres, Michael Wincott como Antlers Holst e o incrível Steven Yeun como Jupe, que acaba sendo um dos personagens chaves para parte do desenrolar da trama. Jupe foi um ator mirim em um seriado de cómedia intitulado “Gordy’s Home”, até que seu parceiro de cena entra em um estado de fúria, mata dois colegas de elenco e deixa outra gravemente ferida.
Na vida adulta, Jupe é vizinho de rancho dos irmãos Haywood e capitaliza em cima de seu trauma e passado através de espetáculos envolvendo animais e contato com o que acredita ser seres de outro planeta que o escolheram como ponto de contato com a raça humama.
Um filme com escala
A grandeza do cinema como sétima arte nos possibilita ter várias interpretações e caminhos que uma obra pode abrir para nos fazer refletir sobre o que é visto em tela. Por isso, para muitos o filme pode parecer somente mais um terror com elementos de sci-fi. Logo, sua leitura do filme vai partir do seu grau de engajamento para imergir na trama e dar atenção para o filme.
O que torna Jordan Peele um dos melhores diretores da atualidade é a maneira de como ele brinca com os gêneros. Seus filmes não foram feitos para serem colocados em uma caixinha com etiquetas. Por mais que outros diretores se arrisquem na liberdade de formatos, nem sempre o que vemos em tela é algo bom. A grandiosidade de NOPE como filme aqui é conseguir costurar elementos da comédia, com sci-fi, suspense, passando pelo horror, ação e Western e ainda assim ser algo palpável e com uma escala agradável de acompanhar.
Filmado em 4K, a convite da Universal filmes tivemos a oportunidade de assistir o filme em uma tela IMAX que elevou o grau de apreensão e tensão como expectador. Somos colocados ao lado dos personagens e nossos olhos buscam olhar para tudo o que está em tela a partir dos planos abertos abertos de Peele. Esse, parece montar um quebra cabeça em nossa frente do começo ao fim do longa, onde nossa visão como público vai ficando mais clara conforme vamos avançando na trama, o que torna o filme melhor ainda se assistido uma segunda vez.
A figura do Alien no imaginário popular
Quando falamos em óvnis e aliens, a primeira imagem que vem em nossa cabeça é daquela nave em formato de prato que abduz pessoas e animais, certo? Provavelmente a resposta é sim, seja pelas gravações duvidosas, teorias conspiracionais que atravessam gerações e a própria identidade que o cinema assumiu para retratar esses visitantes de outros planetas.
Em NOPE, Peele busca inspirações nos filmes de Steven Spielberg: Contatos Imediatos do Terceiro Grau, E.T. e Tubarão, mesmo esse último não se tratando sobre aliens. Se irmos mais fundo no filme, vamos encontrar referências a animes, como Evangelion, Akira e outras simbologias bíblicas e gregas que o Felipe Barbosa explica muito bem neste vídeo.
Por mais que essa seja uma crítica com spoilers e o filme já tenha sido lançado já há algum tempo, eu precisei tirar algumas semanas para refletir e rever o filme mais de uma vez. Acredito que ele não precise ser uma experiência que traga todas as respostas ou que precise ser explicado. Afinal, ele também é sobre a maneira que consumimos e vivemos pelo espetáculo e o consumismo exacerbado do entretenimento.
Quando descobrimos que o óvni se trata de um animal territorialista, que se alimenta de toda forma orgânica que estabelece contato visual, o filme assume outra proporção. E na figura lovecraftiana do então nominado “Jean Jacktet”, se torna um verdadeiro deleite aos olhos, impossível de não olhar.
Conclusão
Toda a jornada dos personagens em torno de registrar um animal que não pode ser domesticado já é inesperada e subversiva quando olhamos para outros filmes que buscam trazer esses elementos. Afinal, se você passasse por uma situação parecida, você iria fugir ou tentaria fazer um registro para ficar famoso ao ponto de ir na Oprah?
No final das contas Não, não olhe! é um filme que precisa ser olhado, e assim como Corra e Nós, rende discursões anos depois de seus lançamento, NOPE, manterá a tradição. Não em escala de comentários sociais como os anteriores, mas apontando para outros locais que Hollywood ainda não olhou!
Continue lendo no OtaGeek:
- Crítica | Train Valley e a arte em criar trilhos de trem
- Conheça o elenco do filme “Amsterdam”, que estreia em outubro nos cinemas
- Crítica | ‘Sorria’ é terror barato que não sustenta sua grande premissa – os sorrisos!
- Mês do Terror: saiba o que estreia em outubro
[…] Crítica | Não, não olhe! (NOPE) subverte a expectativa do espetáculo de Jordan Peele […]