Crítica | Ligação Explosiva

Se você gosta de ação e drama sem clichês e não tem vergonha de chorar em público, corra para ver Ligação Explosiva! Aliás, correria é o que não vai faltar.

Eu já falei aqui que filmes coreanos costumam ser tão bons quanto pitorescos. A Coreia do Sul encontrou o meio termo perfeito entre a estética oriental e a decupagem ocidental de uma forma que os japoneses não o fazem. O cinema coreano trabalha o N.R.I. (Narrativo, Representativo, Industrial) sem se valer tanto das cenas gatilho e dos clichês, ou ao menos utilizando-os de forma original.

E, quando fui convidado pra assistir à pré-estreia de Ligação Explosiva, deixei meu telefone pra despertar horas antes e não perder o bom lugar de jeito nenhum. Mal sabia eu que o filme me faria mudar o toque de meu celular. Por quê? Ora, não importa! Vim aqui fazer a crítica, não dar spoilers.

O título em português é tão sugestivo quanto infame e não menos do que o título em inglês (Hard Hit). O título original diz exatamente o que vai acontecer sem entregar nada nem estragar a surpresa: Balsinjehan (발신제한), algo como “Restrição de Saída” ou “Proibido Sair”, o que passa a asfixia comum às obras dramatúrgicas (tanto coreanas quanto japonesas) dos filmes aos animes e mangás. E a trama realmente te prende, embora muitas vezes dê vontade de sair correndo da sala de cinema, de tanta aflição que dá.

O filme conta a história de Seung-Gyu, o chefe do Banco Central da Coreia do Sul que vai levar seu casal de filhos ao colégio. Logo ao entrar no carro, sua filha, Lee Hye-in, sente um cheiro estranho vindo do interior do automóvel. Trata-se de uma bomba instalada embaixo do assento de seu pai, que explodirá se ele se levantar. Mas só sabemos disso após uma estranha chamada ao telefone de Seung-Gyu vinda do terrorista que implantou a bomba e diz que a explodirá caso qualquer um saia do carro. Trata-se de uma chamada restrita, uma das possíveis traduções para “balsinjehan”.

A ideia de correr contra o tempo em um veículo com uma bomba prestes a explodir é trabalhada de uma forma muito melhor do que o americanoide Velocidade Máxima (Speed). O drama passado pelos personagens nos é real e passa batido de um dramalhão. A ideia do pai rico que não dá a devida atenção aos filhos já era passada em Invasão Zumbi (Busanhaeng), que serviu de embrião para Céu Vermelho-Sangue. As cenas ocorrem de forma tão natural que realmente não sabemos o que vai acontecer. Nada está “na cara”. Os enquadramentos e planos-sequência são perfeitos, tanto nas cenas estáticas quanto nas cenas de ação, durante a correria concernente ao filme. 

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Aliás, o roteiro tempera muito bem os momentos de ação com as pausas, sem nunca perder a tensão e consegue prender a atenção. Some a isso as excelentes interpretações de Jo Woo-jin como o protagonista Seung-Gyu, Lee Jae-in (como sua filha, Lee Hye-in), Jin Kyung, como a líder do esquadrão antibombas, Kim Ji-Ho como a esposa de Seung-gyu, Jeon Seok-ho, como Jung-ho e Lee Seoul, sua esposa. A direção fica por conta de Kim Chang-ju, que trabalhou como editor de Um Dia Difícil (Ggeutggaji) e O Túnel (Teo-Neol), além de ter participado do departamento editorial do filme O Expresso do Amanhã (Snowpiercer).

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Claudio Siqueira
Claudio Siqueira

Escritor, poeta, Bacharel em Jornalismo e habitante da Zona Quase-Sul. Escreve ao som de bits e póings, drinkando e smokando entre os parágrafos. Pesquisador de etimologia e religião comparada, se alfabetizou com HQs. Considera os personagens de quadrinhos, games e animações como os panteões atuais; ou ao menos, arquétipos repaginados.

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