Crítica | Em ‘Dahmer: Um Canibal Americano’, Ryan Murphy escancara privilégio branco

Nova série sobre o Canibal de Milwaukee acaba de estrear na Netflix
Evan Peter em "Dahmer: Um Canibal Americano". - Otageek
Evan Peters em “Dahmer: Um Canibal Americano”. Foto: Divulgação/Netflix

Não é de hoje que a Netflix tem investido arduamente em produções de true crime (“crimes reais”, em tradução livre) para seu catálogo. Grande parte desse feito se deve ao crescente interesse dos assinantes no assunto. Em se tratando de um serviço de streaming que distribui diariamente conteúdos para mais de 190 países, permite-se que tais histórias cheguem ao conhecimento das mais variadas culturas. 

Os Estados Unidos se consagraram como os maiores produtores de produções literárias, cinematográficas e televisivas do gênero true crime, diante de ocuparem a posição com o maior número de serial killers do mundo. Não impressiona que tais acontecimentos impactassem, chegando assim no audiovisual. 

Hoje, Brasil, Europa, Estados Unidos etc., conseguem ter acesso a histórias de criminosos do mundo inteiro, graças à proliferação de serviços de streaming. 

A produção da vez é “Dahmer: Um Canibal Americano”, dirigida pelo premiado diretor norte-americano, Ryan Murphy, responsável pelo sucesso “American Horror Story”. 

Essa não se trata da primeira experiência do diretor com casos reais. Quando fez a 1ª temporada de “American Crime Story”, escolheu o Caso OJ. Simpson para retratar. O resultado foi brilhante. O diretor retornou com mais duas temporadas, recontando a história de Andrew Cunanan, o assassino do estilista Gianni Versace, e o Impeachment de Bill Clinton, consecutivamente. 

Cuba Gooding Jr. interpretou o jogador de futebol americano, OJ. Simpson, acusado de matar a ex-esposa e seu amigo. Foto: Divulgação/Netflix

Evan Peters foi o escolhido para viver o canibal americano, Jeffrey Dahmer. O ator já era conhecido de longa data do diretor, quando fez parte do elenco de “American Horror Story”.  

Creio ser suspeita em se tratando das produções do diretor, entretanto, mesmo deixando o mínimo fanatismo de lado, fica impossível não elogiar a retratação do Caso Dahmer. Não se trata da melhor direção de Murphy, apesar disso, consegue conquistar seu espaço de brilhantismo. 

Diferente de muitas produções de true crime, que permitem acompanhar a investigação, chegando assim ao estopim final, a captura do assassino, “Dahmer”, se inicia já trazendo à tona a prisão do assassino. Tal escolha prevê ao espectador que os rumos escolhidos para a série serão diferentes dos convencionais. É uma escolha interessante e sábia, visto a saturação na condensa generalidade que tem sido feita nas produções do gênero.

Para além de um assassino, a série consegue resgatar a memória das vítimas, mostrando os pontos de vistas dos familiares, e de que forma essas pessoas foram impactadas pelas escolhas de Dahmer. É a partir desses momentos, imprescindíveis se tratando de crimes reais, que ocorre a exploração e evidenciação de uma negligência policial, escancarando um privilégio branco que perdura.

Niecy Nash interpreta a vizinha de Dahmer, Glenda Cleveland. Foto: Divulgação/Netflix 

Explorar a mente de criminosos é essencial. Entretanto, há escolhas que podem acabar os humanizando, fazendo assim com que as vítimas sejam pessoas sem importância alguma. “Dahmer”, em certos momentos, mais especificamente nos primeiros três episódios, evidencia uma infância sofrida, abandono e alcoolismo. A série consegue explorar o que muitos estudiosos denominam de “primeira infância”, a qual gera discussões acerca do impacto na formação de criminosos. São em tais cenas que se chega a beirar um vitimismo. É perigoso, apesar de não ser explicitamente escancarado.

A série consegue trazer traços e ambientalismo atrelada à brilhante “Mindhunter”, que retrata a mente dos mais infames criminosos dos Estados Unidos. 

“Dahmer” não é sobre uma investigação, até porque a direção já entrega de bandeja o estopim da história. É uma produção de resgate às vítimas, é sobre provocar indignação, de entender Dahmer, mas não deve ser a ponto de justificar seus crimes. Muito pelo contrário. É sobre alguém que vivenciou uma infância árdua, mas que jamais deveria servir de motivo para explicar o rumo que sua vida tomou. É sobre um amontoado de boas escolhas por parte da direção, que permitiram evidenciar de maneira importante as falhas institucionais que possibilitaram a Dahmer continuar agindo. 

É de longe uma das melhores atuações de Evan Peters, que conseguiu, através do olhar, transmitir o vazio que existia dentro do canibal. É visceral, agonizante e indignante, mas permite entender que uma história como essa não pode jamais ser esquecida, e não devido a Dahmer, mas, sim, às suas 17 vítimas. 

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Isabella Breve
Isabella Breve

Graduanda em Jornalismo, leitora voraz, amante da Sétima Arte e eternamente fã.

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