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Crítica | Doutor Estranho: O Juramento
Aqui temos Strange trazendo de volta o lado investigativo paranormal, re-significando seu passado e deixando um pouco o status de poderoso Mago Supremo. A HQ Doutor Estranho: O Juramento é uma história que representa bem o lado humano de Strange e o que é a batalha pela vida!
Antes de começar a falar sobre a HQ, vamos relembrar um pouco da história do Mago Supremo da casa das ideias. Doutor Estranho foi criado por Stan Lee e Steve Ditko em 1963, aparecendo pela primeira vez como um vilão e inimigo do Homem de Ferro na HQ Tales of Suspense #41.
PEGA A JOIA DO TEMPO QUE TEMOS QUE VOLTAR ATÉ 1963
Mas calma, esse não era o Mago Supremo que conhecemos hoje. Naquela ocasião, era um homem chamado Carlo Strange.
Somente em Tales of Suspense #110 que Stephen Strange fez sua primeira aparição. Antes de obter seus poderes, Strange era um renomado e arrogante neurocirurgião que, após sofrer um acidente de carro, perde a sensibilidade dos dedos e passa a não poder mais segurar com firmeza um bisturi, o que abala seu mundo e o faz entrar em crise.
Após falhar com todas as possibilidades de cura a partir da ciência, Strange ouve que um velho sábio no Tibete, conhecido como Ancião, poderia ajudá-lo. Chegando no local, Strange convence o Ancião a treiná-lo nas artes místicas e assim começa a jornada do nosso herói em um mundo místico, ou melhor, mundos e realidades paralelas definidas pelo conceito criado por Ditko na década de 60.
A ambientação psicodélica de Ditko apresentava quadros insanos, confusos e inesperados, que alimentavam o clima das histórias do personagem. As aventuras cósmicas através de planos astrais, protegendo a Terra de forças negras perpetuaram após a saída de Ditko do título.
Mesmo não tendo criado o personagem com esse intuito e não aprovando, ele não foi capaz de impedir que os artistas os quais assumiram Strange posteriormente abraçassem a contra-cultura da época, utilizando de seu material como símbolo do movimento hippie, principalmente na década de 1970.
AS DUAS VIDAS DE STHEPHEN STRANGE
Com roteiro de Brian K. Vaughn e arte de Marcos Martín, a HQ ‘O Juramento se encarrega de trazer uma nova leitura do Mago Supremo, com uma trama cheia de investigações, revelações, conspirações e reviravoltas.
Você já ouviu falar no seguinte juramento?
“Juro aplicar os tratamentos para ajudar os doentes conforme minha habilidade e minha capacidade…”
Esse é o Juramento de Hipócrates, o primeiro que Strange fez assim que assumiu sua vida como médico. Mas como ele é um mago, a aplicação dessas palavras está além de suas habilidades médicas e o peso de carregar tal fardo às vezes é demais para o Doutor.
Sobre a trama, ela começa com Estranho chegando carregado pelo seu aprendiz, Wong, no consultório da Enfermeira Noturna. O Mago Supremo foi baleado dentro do Sanctum Sanctorum após regressar de uma busca por uma cura para a grave doença de seu pupilo. Assim Strange, acompanhado pela Enfermeira e Wong, começam uma investigação para descobrir quem é o atirador misterioso que roubou o remédio.
Vaughn teve todo o cuidado necessário para trabalhar uma história que se aproximasse da realidade de pessoas que sofrem de tumores cerebrais e como essas pessoas, mesmo doentes, ainda estão vivas e merecem ser tratadas como quaisquer outras. Dessa forma, é retratada a situação de Wong na história.
Mais tarde, Doutor Estranho ainda descobre que o seu atirador misterioso estava portando uma pistola mística, a mesma utilizada por Adolf Hitler para se matar. O atirador estava a trabalho de um grupo de empresários donos das maiores redes de farmácia do mundo, um novo/antigo inimigo do mago.
O interesse do grupo no remédio era dado ao fato de que ele não somente curaria o tumor de Wong, mas também serviria como a cura para todas as doenças do planeta. Bom, claro que o maior Mago de todos os tempos não poderia colocar a mão nessa fórmula, se não o mundo possivelmente entraria em crise e o faturamento da indústria farmacêutica cairia drasticamente.
Após receber ajuda da Enfermeira Noturna, Strange parte então junto a ela e Wong em uma jornada para localizar o ladrão e desvendar de uma vez esse mistério. Durante sua trajetória, os quadros se alternam entre flashbacks mostrando como nosso protagonistaera uma pessoa arrogante e problemática no passado.
Quando finalmente localiza nosso atirador, Dr. Estranho adentra sua mente através de Magia para localizar o mandatário do crime, enfrentando resistência num primeiro momento. Ele tenta confundir o mago, mas não obtém sucesso.
Strange assim identifica que o seu inimigo era um rosto desconhecido até então. Por conseguinte, o grupo retorna para o consultório da Enfermeira Noturna e o encontra em meio ao ataque por um monstro místico. Felizmente, Dr. agora estava em posse da pistola mística de Hitler e a usa uma última vez para dar fim à criatura.
Stephen Strange então descobre que o seu inimigo, até o momento desconhecido, era ninguém menos que Nicodemus, um dos médicos que haviam tentado curar o mago de seus ferimentos nas mãos no passado.
Após Stephen abandonar sua antiga vida em prol de sua jornada pelo mundo atrás de uma cura, Nicodemus ficou no hospital e presenciou vários pacientes sucumbirem a doenças, a ponto de que fosse afetada sua consciência.
Assim, o vilão foi atrás de Estranho e encontrou o Ancião, quem também lhe ensinou as artes místicas para assumir o manto de Mago Supremo caso Strange falhasse em sua missão. Mas ele agora trabalha para o grupo farmacêutico Timely, que o subornou para não usar magia na cura dos doentes em troca de uma cadeira no alto escalão da companhia.
O PESO DE UM JURAMENTO
O arco se encerra com a batalha final entre Strange e Nicomedus, o qual utiliza um artefato que anula as habilidades místicas de todos ao redor por 3 minutos, a fim de tentar tirar vantagem física contra nosso mago, agora não tão supremo.
O que o vilão não esperava era o fato de Strange também saber utilizar artes marciais, ensinadas por seu amigo Wong. O cenário da batalha dos personagens é uma noite chuvosa em um prédio. Dito isso, por um deslize, Nicodemus cai do prédio e morre na hora, danificando assim o recipiente com a cura para todas as doenças da Terra.
Dr. Estranho então se vê diante de um embate entre utilizar a última gota do remédio para tentar replicá-lo em seu Sanctum, ou dá-la para ser parceiro Wong, que acabara de começar a falecer em sua frente. O Mago então opta por salvar seu amigo e o trio retorna para Nova York.
Doutor Estranho: O Juramento entrega justamente o proposto do início ao fim. Por mais que os caminhos utilizados possam parecer esperados para leitores mais ávidos de tramas mais densas envolvendo o personagem, a HQ acaba se tornando uma pedida para fãs que assistiram somente ao filme e não sabem por onde começar a ler suas histórias nos quadrinhos.
Sempre é bom ver personagens trabalhados muitas vezes como “deus ex machina” sendo apenas personagens comuns, com histórias comuns dentro dos limites daquele universo, claro. Sendo assim, revisitar e conhecer mais do passado do doutor e menos do mago me fez ter mais apreço pelo Strange e seu legado.
Destaque também para a arte de Marcos Martín, que consegue transitar bem entre os 5 volumes das histórias. E claro, ao roteiro de Vaughn, que consegue trazer críticas aos grandes conglomerados farmacêuticos e ao capitalismo predatório.
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