Crítica | “Divertida Mente 2” é clickbait para o público

Filme replica a estrutura do seu antecessor, mas não obtém a originalidade apresentada em 2015
Nem mesmo as novas emoções são capazes de despertar a originalidade de “Divertida Mente 2”. Foto: Divulgação/Walt Disney Studios Motion Pictures

O sucesso de bilheteria de um filme nem sempre espelha sua qualidade. Nove anos se passaram desde o lançamento de “Divertida Mente” (2015), à época, uma das melhores produções da Pixar, que apostava em conteúdos originais e dispensava as sequências. O filme anterior produziu, com criatividade e originalidade, uma discussão a respeito das emoções humanas, criando um conteúdo que agradasse todos os tipos de públicos e faixas etárias, característica que marcou o estilo do estúdio. Por meio de histórias que permitiam ao público se relacionar, a Pixar se destacou pela criação de personagens e temas globais e, principalmente, pela concepção de figuras imperfeitas com falhas humanas, revolucionando para sempre o mercado das animações, um processo que se iniciou com o lançamento de “Toy Story” (1995). Contudo, nos últimos anos, com a compra do estúdio pela Disney, a originalidade se perdeu e deu lugar à replicação de uma fórmula sem inovação técnica. 

Sem a genuinidade narrativa do seu antecessor, “Divertida Mente 2” (2024) replica a fórmula que funcionou no original, sem arriscar a engenhosidade enaltecida há nove anos. É a tentativa da Pixar de voltar aos velhos tempos, mas falhando ao incorporar uma jornada que já havia sido apresentada, desta vez, porém, com acréscimos que dialogam com o advento da internet e as consequências do mundo moderno, um clickbait para atrair e agradar o público. Isso se traduz no comodismo do estúdio com as novas produções, em um período pós-compra pela Disney e na declaração do CEO da empresa, Bob Iger, ao anunciar que o estúdio se esquivará do domínio das produções originais e buscará um equilíbrio entre elas e as sequências.  

No primeiro filme, a Alegria tentava a todo custo controlar a mente de Riley, em uma justificativa para o bem próprio da garota. Na sequência, é a Ansiedade, integrante do grupo das novas emoções, a responsável por repetir o feito da Alegria no filme anterior. Enquanto na primeira versão apenas cinco emoções-base povoavam a mente de Riley desde seu nascimento e ao longo da infância, na sequência, com a chegada da puberdade, novas emoções – Ansiedade, Vergonha, Tédio e Inveja – surgem para bagunçar a mente da menina durante um acampamento peneira para um time de hóquei do ensino médio. 

Assim, inicialmente, o roteiro vai contra suas próprias regras ao infiltrar na mente de uma pré-adolescente mais de cinco emoções, enquanto adultos e animais permanecem apenas com as emoções-base, negando assim a complexidade dessas mentes. Se, no primeiro filme, Alegria e Tristeza partem para uma jornada dentro da mente de Riley para salvar as Ilhas da Personalidade da garota, no segundo, a Ansiedade, num golpe de reverberações de seu próprio sentimento, manda as emoções-base para o esquecimento numa tentativa de controlar Riley e torna-lá a melhor versão de si mesma. Desse modo, mais uma vez, as emoções partem em jornada para consertar a mente de Riley e retornar para a sala de comando. 

Foto: Divulgação/Walt Disney Studios Motion Pictures

Portanto, as aventuras se igualam, entretanto, com poucos acréscimos, numa tentativa de demonstrar novidade perante ao que está sendo contado em tela. Todavia, muitos dos “upgrades” se transformam em ideias mal concebidas ou desnecessárias, como o Vale dos Sarcasmos, que serve apenas como mais um obstáculo para as emoções-base. Se, no primeiro filme, a Alegria tentava controlar a mente de Riley e enxergava a Tristeza como vilã da história, nesta versão, ela novamente embarca em uma missão para recuperar o controle da mente de Riley e torna a Ansiedade a antagonista, indo contra os aprendizados que adquiriu na primeira versão. 

Desse modo, a Ansiedade torna-se a vilã de uma história, com a criação de cenários hipotéticos que podem dar errado ou talvez nunca ocorrer. Entretanto, apesar de ser o mal do século, a ansiedade igualmente faz parte da sala de comando, assim como as outras emoções. A narrativa, assim, a transforma em uma vilã que precisa ser detida e faz da Alegria a salvadora da jornada. Contudo, no fim, assim como no anterior, a jornada resulta no mesmo aprendizado, com uma mensagem que prega a importância de todas as emoções para o ser humano, sejam elas boas ou ruins, em um best-seller de autoajuda que vende o óbvio. 

Sem uma trilha marcante como a de seu antecessor e numa narrativa voltada para o público infantil e adulto, “Divertida Mente 2” apela para um sentimento de um século, apresentando alguns poucos elementos interessantes, como o surgimento da Nostalgia, embora seja muito cedo para que Riley a sinta, e transforma a Ansiedade na vilã para, em seguida, reverter sua própria existência, com poucos momentos que provocam sensações para além das telas, especialmente para os adultos. Ainda assim, é uma sequência que se foca no óbvio e prefere apostar no seguro em vez do original, com os novos elementos sendo trabalhados de forma superficial. Se o sucesso de bilheteria de um filme não justifica sua qualidade, “Divertida Mente 2” certamente é um exemplo. 

Confira o trailer de “Divertida Mente 2”:

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Isabella Breve
Isabella Breve

Graduanda em Jornalismo, leitora voraz, amante da Sétima Arte e eternamente fã.

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