Crítica | Cruella – É realmente cruel?

Cruella conta a história da icônica personagem Cruella De Vil, apresentada pela primeira vez ao público em 101 dálmatas e originalmente interpretada por Glenn Close

Dirigido por Craig Gillespie (responsável por I, Tonya, indicado a Melhor Filme no Oscar de 2018), o filme conta com um elenco de peso, contendo grandes nomes como as vencedoras do Oscar Emma Stone e Emma Thompson. O filme conta ainda com a participação de Mark Strong, Kirby Howell-Baptiste, Paul Walter Hauser e Joel Fry

Desta vez, acompanhamos uma versão mais jovem da personagem, chamada Estella, mas rapidamente somos apresentados ao seu alter-ego, Cruella. O filme mostra o início de sua trajetória como designer de moda, mas também sua jornada de auto aceitação, o descobrimento de sua identidade e a vontade de ser vista pela sociedade britânica.

Emma Stone como Cruella, no filme original da Disney.
Emma Stone como Cruella.
Reprodução: Disney+.

O filme se passa na década de 70 em Londres e expressa, através da sua direção de arte, elementos que compunham a atmosfera da cidade na época. O sentimento de rebelião, a atitude transgressora da personagem e os elementos do movimento punk, como figurino e trilha sonora, complementam a construção visual de Cruella. Além disso, o filme remete a personagens da cultura pop, como o Artie, vivido por John McCrea, inspirado em Alex Delarge, de Laranja Mecânica

Após um acontecimento trágico em sua infância, Estella/Cruella se muda para Londres para tentar reconstruir sua vida. Pouco depois, a garota conhece Gaspar (Joel Fry)  e Horácio (Paul Walter Hauser), recebendo apoio e solidariedade dos personagens. Acompanhamos, então, Estella crescendo com Gaspar e Horácio e sobrevivendo através de trambiques, trapaças e confusões.

Nesse arco com os personagens secundários, podemos notar uma nova abordagem sobre família. Nem sempre vamos nos identificar ou nos sentir aceitos e acolhidos por nossa família tradicional, mas sim por aqueles que encontramos pelo caminho da vida e com os quais criamos um laço de identificação muito mais forte do que o de sangue.

Gaspar, Horácio e os cachorros (apesar de serem feitos de CGI) contribuem bastante para o ritmo de Cruella, ajudando no alívio cômico e estabelecendo bem essa jornada familiar que humaniza a personagem e sua origem.

Emma Thompson como A Baronesa, em Cruella da Disney.
Emma Thompson como a antagonista, a Baronesa Von Hellman.
Reprodução: Disney+.

A Baronesa (Emma Thompson) é uma grande inspiração para a jovem Estella. A rebeldia, inteligência e sagacidade da personagem despertam o interesse da antagonista, que a contrata para trabalhar em seu ateliê, iniciando a trama

Cruella fala muito sobre esse conflito de gerações. Enquanto Estella/Cruella quer inovar e apresentar novos estilos à sociedade, sendo representada através desse movimento punk, a Baronesa deseja continuar seguindo uma linha de criação mais tradicional, clássica e focada na elegância

Nesse confronto geracional que faz parte da nossa sociedade até hoje, vemos essas duas personagens representando lados opostos, mas que possuem diversas similaridades. Esse embate traz os melhores e mais marcantes momentos do filme, que são recheados de humor, estilo e situações absurdas.

Emma Stone faz uma performance brilhante ao interpretar Cruella. A atriz consegue capturar a essência da personagem, tomando-a para si, sem deixar caricato ou imitar a atuação de sua antecessora. Se antes da estreia havia questionamentos se a personagem faria jus ao legado de Glenn Close, ao assistir ao filme não restam dúvidas de que o trabalho de Stone foi muito bem executado.

Pôster oficial de Cruella.
Reprodução: Disney+.

A Baronesa (Emma Thompson) também é um grande destaque no filme. Apesar de ser uma vilã, somos completamente cativados pela atuação de Thompson, que brilha em cada cena que aparece. O jeito incisivo, sem papas na língua e irônico da personagem ganham o coração do público. Em algumas situações, a Baronesa diz o que gostaríamos de poder falar, mas as convenções sociais não nos permitem. Sua personagem é aquele tipo de vilã que amamos odiar.

A história divertida prende a atenção do espectador, que conhece um outro lado de Cruella, um mais humano e que consegue despertar a empatia no público. Mesmo que alguns de seus atos possam ser considerados reprováveis, é difícil não torcer para a personagem levar a melhor em sua disputa com a Baronesa

Em Cruella, finalmente conseguimos compreender seu ódio por dálmatas, suas paixões e motivações. É possível assimilar como a personagem se torna a temida Cruella De Vil, mas por enquanto ela ainda é uma Cruella boazinha.

O figurino e a trilha sonora são outros pontos extremamente positivos para Cruella.  O visual bem construído é assinado por Jenny Beavan (ganhadora do Oscar pelo figurino de Mad Max). As cores escuras, o xadrez, alfinetes, patches e roupas justas associados à maquiagem pesada captam perfeitamente o zeitgeist dos anos setenta. A trilha sonora é composta por bandas e músicas que ganharam a popularidade na época, como One Way or Another de Blondie e  Should I Stay or Should I Go do The Clash.

De perto, Londres não é tão glamourosa assim

Como nem tudo são flores, Cruella peca em algumas situações.

A primeira delas foi o anúncio de que um personagem abertamente gay faria parte do filme, porém, o personagem, apesar de divertido e de influir na trama, aparece pouquíssimas vezes, encaixando-se no estereótipo de melhor amigo gay engraçado

Outro revés é a personagem de Kirby Howell-Baptiste, Anita Darling, que em Cruella é uma jornalista, e não estilista, como em 101 dálmatas. O ponto positivo foi a representatividade, já que a personagem agora é interpretada por uma atriz negra, mas a questão é que Anita não tem sua personalidade desenvolvida. E isso reflete em seu figurino, com cores claras e pouco chamativas.

Anita até usa roupas muito similares, que parecem só mudar um pouco o padrão de cores. No final, a personagem passa quase despercebida em muitos momentos. Ela também não tem tempo suficiente para que o público possa conhecê-la. Além disso, Anita é usada apenas para servir os interesses de Cruella

Ademais, um pequeno erro técnico do filme envolve o lado da direção do carro. Por se passar na Inglaterra, o lado do motorista é o direito, mas em uma das cenas a personagem Cruella é mostrada dirigindo do lado esquerdo, como estamos acostumados aqui no Brasil. Não é nada de muito absurdo e que atrapalhe a experiência do espectador, porém um erro besta e desatento que poderia ter sido facilmente consertado.

O filme também cai em alguns clichês já conhecidos da Disney. Novamente, não é nada que atrapalhe o ritmo do filme, mas poderia ter sido evitado.

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Mesmo com os problemas, Cruella é uma farofinha crocante, sendo mais um live action de sucesso da Disney. O filme cumpre seu papel de humanizar a odiosa vilã, mas ao contrário dos anteriores, nos quais as vilãs acabam seguindo pelo caminho do bem, Cruella é apenas… Cruella! E mesmo assim, terminamos de assistir sentindo carinho pela personagem e torcendo para o melhor. O filme também consegue amarrar as pontas soltas e fechar todos os ciclos. Ah! Não esqueça de assistir até o final, pois tem cenas pós-créditos.

Menção honrosa: os créditos são belíssimos e ganham vida com a canção original da cantora Florence!

Cruella está disponível no Disney+, clique AQUI para assistir.

Texto escrito por Sabrina Ventresqui

Veja o Trailer de Cruella

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Luna | A Patroa da Redação
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Guilherme Lopes

de fato é um filme bem gostoso de assistir! A atuação das Emmas (tanto a Stone quanto a Thompson) são maravilhosas. E o gancho no final foi excelente!

Luiza

Ótima crítica! O filme é bem bacana e me tocou muito, então qualquer defeito não vai sobressair aos pontos positivos. Emma é sensacional!

Victoria Hope

Amei demais a crítica. O filme foi maravilhoso para mim, porém, confesso que ele se alongou demais. 1h40 já estava bom. Algumas cenas ficaram repetitivas, mas a parte da moda, que na minha opinião era o tema mais importante, serviu absolutamente tudo o que eu esperava em um filme sobre uma das maiores estilistas da animação <3

Riuler

Excelente crítica Sabrina, conseguiu transmitir tudo que lá no filme. Eu amei muito, principalmente a trilha sonora.

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Lua

Nada haver colocarem uma atriz
Negra pra fazer o papel da Anita!
Tô acostumada com o desenho
Não gostei, só gostei da parte que ela não mata os dálmatas