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Crítica: CGI faria de “Cherry” um filme bom?
“Cherry” (2021) é um prato cheio aos olhos. Quando vi sua capa na prateleira virtual da Apple TV+, algo me chamou a atenção. Procurei sobre, li a sinopse por alto e decidi apertar o play.
Cuidado! Contém Spoilers!
O filme começa com um prólogo que mostra o jovem “Cherry” (Tom Holland) prestes a assaltar um banco. A primeira coisa que me surpreendeu foi que Tom Holland está no filme e eu nem tinha reparado nisso. Como não o reconheci na capa? Foi o filtro vermelho e as enormes letras que me distraíram? Pode ter sido.
O filme é dividido em capítulos (cinco no total, mais o prólogo e epílogo) e narra a pacata vida de um jovem estudante que acaba indo parar nas forças armadas americanas após ter o coração partido pela sua jovem amada, Emily (Ciara Bravo), a qual terminou o relacionamento dizendo que iria estudar em Montreal. Porém, eles reatam o namoro e se casam, então Cherry faz a promessa de retornar à jovem esposa após os dois anos de serviço prestado.
Mas durante a guerra no Iraque, o jovem evidencia os terrores dos confrontos e os bombardeios no deserto. Pelos horrores vividos, ele acaba desenvolvendo um forte transtorno de PSPT (perturbação de estresse pós-traumático), que o coloca em um ciclo vicioso de dependência de remédios até, infelizmente, ser levado a usar drogas mais pesadas.
Seu vício e dependência carregam sua esposa, Emily, consigo para um caminho perigoso de vínculos com o traficante Pills & Coke (Jack Reynor). Daí em diante, o ciclo de assaltos a banco e, claro, a fatídica prisão, e talvez (só talvez) a redenção do herói, ocorrem.
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A definição de “Cherry” como um filme ruim pode se dar pela frase “peca pelo excesso”. E o texto acabaria por aqui. Mas existe uma porção de coisas que fazem a obra ser quase um acidente. Uma delas é, inclusive, a duração que se perde em um trem descarrilhado, no qual a história se perdura em detalhes e capítulos longos e tem que se apressar para amarrar o final.
Percebemos até uma certa falta de humanidade e atenção dos irmãos Russo em retratar algo que realmente existe nos Estados Unidos e como o sistema de saúde americano leva as pessoas à dependência de remédios. Isso, muitas vezes, acaba por transformar portadores de certos quadros clínicos em potenciais dependentes químicos.
Assim, a história se torna um redemoinho sobre como o protagonista e sua amada se amam e amam a heroína, e como se adaptaram a viver em uma situação precária, mas permanecem juntos apesar de tudo.
Além disso, temos também a caracterização enfadonha dos personagens que, apesar dos pesares, não carrega a culpa e os deméritos do filme. Holland e Bravo entregam boas atuações, apesar da narrativa forçada que a eles é sobreposta.
Seria a obra perfeita (e sem trocadilhos com o título) para que os dois atores mostrassem ao mundo que são adultos e tirassem de si a taxação de “atores teens”. Mas é piegas e até constrangedor ver que para retratar o “amadurecimento” dos dois, eles colocam um bigode no Tom e uma criança para Ciara carregar. Pronto. Adultos maduros, gostaram?
Em suma, Cherry luta contra a maré e refuta todos os seus pontos que poderiam ser positivos. E nem o razzle dazzle técnico funciona a seu favor. Os jogos de câmera, os cortes nas cenas de ação (que lembram filmes dos Vingadores), a quebra da quarta parede… nada funciona porque é um filme sem alma, o que é irônico dado o significado da história original.
Chega ser pretensioso como os Irmãos Russo entregam o filme, que com todo o budget, só demonstra que eles tiveram o olho maior que a barriga. Além do mais, a falta de paciência ao retratar um drama e um relato da falha dos Estados Unidos com seus cidadãos é triste.
No fim, Cherry serve como prova de que CGI e orçamento não fazem bons diretores.
Sinopse: Cherry: Inocência Perdida (2021) é baseado no livro de Nico Walker de mesmo nome. Cherry conta a história do jovem ex-médico das forças armadas americanas. Após desenvolver transtornos mentais, o ex-soldado entra na vida do crime para sustentar seus vícios em drogas.
Diretores: Joe Russo, Anthony Russo
Ano: 2021
Disponível: AppleTV+