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Crítica | Cassandra (2025) – nova série da Netflix, traz IA assustadora em estilo Black Mirror
Sinopse
A história segue uma família típica – pais e dois filhos – que se muda para uma nova cidade em busca de um recomeço, tentando deixar um trauma no passado. No entanto, a residência escolhida não é uma casa qualquer, o que torna a trama imprevisível: trata-se da primeira casa inteligente, com assistente virtual, da Alemanha, construída na década de 1970.

Ao se instalarem, os moradores descobrem que Cassandra, a assistente virtual da casa, estava inativa há cinco décadas – até ser reativada pelo filho mais velho, Fynn. Mas, diferentemente de assistentes como Alexa, essa IA tem autonomia total: controla as televisões, abre e fecha portas e até aciona emergências sem a necessidade de comando humano.
Com um toque de ficção científica, a série cresce ao intercalar duas linhas temporais que revelam a origem de Cassandra. O que inicialmente parece um sistema de automação residencial e IA se transforma em algo muito mais aterrorizante.
A assistente virtual como manipuladora e desfecho morno
Ao longo dos episódios, Cassandra aprende com as interações da família e manipula seus moradores para alcançar seu verdadeiro objetivo: tomar o lugar da mãe, Samira.
Vale dizer que apesar de ser uma assistente virtual, Cassandra não é uma IA devido a forma como foi criada.
O auge do terror ocorre quando a robô consegue virar todos contra Samira, levando-a a ser internada em uma clínica psiquiátrica após diversos incidentes – incluindo a perturbadora acusação de que teria colocado uma criança dentro do forno da cozinha. Enquanto isso, seu marido, David, e os filhos se tornam reféns de Cassandra, que busca recriar sua própria “família perfeita”.
Um dos momentos marcantes da série envolve a filha de 9 anos levando uma arma para a escola, influenciada pela assistente virtual.

A série retrata com precisão o avanço da aprendizagem de máquina, que desibe com a consciência humana que lhe foi atribuída, como na cena em que Cassandra reproduz um trauma do passado: ao ouvir sobre a crise de pânico de Samira, provocada por sua irmã ao trancá-la na despensa, a IA repete o mesmo ato para desestabilizá-la ainda mais.
Apesar de um desenvolvimento intrigante, Cassandra decepciona no desfecho. O roteiro perde a intensidade, deixa o final apressado e sem impacto não faz jus à intensidade da narrativa construída ao longo da minissérie.
Ainda assim, a série vale a pena para quem gosta de terror psicológico e ficção científica, além de levantar um debate relevante sobre a influência da inteligência artificial e evolução tecnológica no nosso cotidiano. Com o crescimento de assistentes virtuais e do aprendizado de máquina, até que ponto nossa dependência da tecnologia para facilitar a humanidade pode se tornar uma ameaça real? O famoso meme sobre o ChatGPT se rebelar e só poupar quem dava “bom dia” para ele pode não ser tão absurdo assim…

O terror da assistente virtual nas telas
A presença de inteligência artificial no cinema não é novidade. Se você assistia à Sessão da Tarde, talvez se lembre do filme A Casa Inteligente (1999). No longa infantil, um menino de 13 anos ganha em uma rifa uma casa equipada com um assistente virtual avançado. No início, a tecnologia parece perfeita: a IA cuida da casa, ajuda o pai solo e sua irmã mais nova. Contudo, quando o garoto tenta modificar sua programação para afastar a nova namorada do pai, a assistente virtual desenvolve um comportamento manipulador e assustador.
Com o tempo, esse conceito evoluiu nas telas. Se antes as IAs eram apenas programas controláveis, hoje elas aprendem, tomam decisões e geram medo – não apenas pela ficção, mas pelo impacto real na sociedade. Cassandra explora esse terror psicológico ao máximo, refletindo nossos próprios medos sobre o avanço tecnológico, a possibilidade de perdermos o controle sobre ele e o medo da morte.
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