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Crítica | Belezas (2020) – My French Film Festival
A popularização do reality show RuPaul’s Drag Race trouxe várias consequências: RuPaul Charles transformou o seu reality tão simplista nos seus primórdios, em 2009, em um verdadeiro fenômeno, com adaptações do formato para outros países, turnês mundiais com as queens do reality, programas e webséries protagonizados por ex-participantes e até sua própria Comic-Con.
O reality, mais do que uma competição, tornou-se uma plataforma para alavancar ao estrelato artistas que antes só atingiam seu nicho, no caso, a comunidade LGBTQIA+. Mas não só isso, ele se tornou uma inspiração para uma nova onda de artistas, cada vez mais jovens, que acabam vindo à tona, se não no programa, em outras plataformas. Belezas (Beauty Boys, 2020) é um bom exemplo disso.
Ao som de Nails, Hair, Hips, Heels, de Todrick Hall, acompanhamos Léo e seus amigos em sua estreia no universo cheio de glitter e close das drag queens. Os jovens se preparam para uma noite de palco aberto na pequena vila onde habitam, porém, a ideia não agrada ao irmão mais velho de Léo, Jules, que tenta impedir a apresentação dos jovens com receio de ser zoado pelos amigos. Dirigido pelo jovem Florent Gouëlou, o curta-metragem faz parte da lista de selecionados da 11º edição do My French Film Festival, disponível na plataforma de filmes independentes Supo Mungam Plus.
A ideia de Florent, como o próprio nome sugere, é ampliar as discussões sobre a representação do masculino, e isso ele faz bem. De um lado temos Léo, um garoto de 17 anos, gay, que deseja se apresentar como drag queen. O jovem poderia representar todo o estereótipo de fragilidade, principalmente por abraçar o aspecto feminino em sua performance, mas, pelo contrário: é confiante, não se intimida mesmo diante da represália do irmão e se reafirma diante de um público.
Jules, em contrapartida, levado pela toxicidade de seu amigo que constantemente insulta seu irmão, demonstra esconder por trás de sua “virilidade” as suas inseguranças. É bacana perceber que o irmão mais velho de Léo não o reprime por sua sexualidade, necessariamente. Há uma outra razão mais pontual que o espectador atento poderá perceber.
O curta também conta com a participação de Cookie Kunty, drag queen parisiense que acumula mais de 20 mil seguidores em sua conta do Instagram. Cookie interpreta ela mesma e é a responsável por iniciar os jovens garotos na arte drag (drag mother). Além disso, protagoniza uma das cenas mais divertidas do filme.
Além de boas atuações e participações, é um filme tecnicamente agradável. A fotografia é um ponto forte, com paletas de cores harmônicas e bons enquadramentos, os quais potencializam as emoções que os personagens querem transmitir.
O roteiro também é redondinho, deixando bem claro, ao fim do filme, a mensagem que o diretor gostaria de passar, além de ser bastante divertido. No entanto, se você espera complexidade e inovação, esse curta não será tão interessante. Os debates contidos aqui, para aqueles que já assistiram a outros filmes e/ou séries com temática LGBTQIA+, podem passar uma mensagem batida. O curta tem um público-alvo jovem muito bem definido e serve para quem apenas está procurando algo para se divertir por alguns instantes.
Belezas, por fim, foi uma surpresa positiva deste My French Film Festival. Florent e sua equipe executaram bem essa história, com uma boa qualidade técnica. Mesmo soando mais do mesmo, traz uma trama agradável e que vai divertir seu público, ainda que não seja muito memorável.
*Este texto conta com a colaboração de Lucas Lima como co-autor.
Assista ao trailer:
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