Crítica | A Vida de Diane – My French Film Festival

Longas como "A Vida de Diane" se tornam um achado por explorar uma fase existencial não tão comentada

O cinema indie norte-americano consegue a proeza de construir filmes que exploram um cotidiano pouco abraçado pelo cinema mainstream. Por assim dizer, A Vida de Diane (2018) é um daqueles filmes não convencionais, porém com bastante alma e bem aprofundado dentro de seu universo.

A narrativa cinematográfica se desdobra no cotidiano monótono de Diane, uma mulher de meia idade que se encontra desolada. Sua vida é até que muito simples, mas precisa lidar com o seu filho problemático e com vícios em drogas, enquanto ajuda outras pessoas que se encontram em situações de necessidade.

Ela pode ser encontrada em quatro cenários específicos: no hospital, cuidando de uma prima doente, no apartamento do filho viciado, servindo comida a moradores de rua e jantando com sua melhor amiga.

Diane andando perdida na neve
A Vida de Diane – My French Film Festival.

Nesses momentos, o filme deixa claro o quão prestativa Diane é. Ao mesmo tempo, o longa mostra o quão frustrada ela é. Dentro dessa simpatia, a protagonista se mostra arrependida e amargada pelas decisões ruins que tomou em sua vida, assim como precisa conviver com as pessoas que magoou quando era mais jovem.

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Quando o cinema produz filmes com temáticas parecidas, longas como A Vida de Diane se tornam um achado por explorar uma fase existencial não tão comentada. Poucas obras falam sobre a terceira idade assim como falam da fase adolescente e determinados períodos da fase adulta, que não se estendem ao momento da velhice.

A direção do filme demonstra estar interessada na vida peculiar dessa mulher apática. O diretor Kent Jones não tinha muita experiência com longas de ficção, apenas filmes documentais. Portanto, em A Vida de Diane o diretor acaba se enrolando um pouco dentro de sua própria narrativa, porém jamais demonstra desinteresse por sua personagem.

Diane sentada numa mesa de jantar com um grupo de senhoras
A Vida de Diane – My French Film Festival.

Jones insere Diane em poucos cenários para mostrar o quão ela está atordoada. Então, o saldo positivo do diretor nesse filme é saber como acompanhar a protagonista para demonstrar o quão escapista a personagem consegue ser porque tem medo de ficar sozinha com suas mágoas, o que oferece mais facetas a ela, já que busca espalhá-la pela cidade.

Cada vez que Diane está sozinha, a direção se afunda dentro do subconsciente da personagem e se permite quebrar ao lado dela. Conforme a trama avança, Kent deixa claro como sua protagonista está se dispersando em memórias, sentimentos e eventos não muito saudáveis.

Mas nem sempre tudo consegue se manter estável, Kent acaba errando muito quando tenta abordar as passagens de tempo. Não existe nenhum sinal do que está acontecendo, tanto que em alguns momentos o filme vai ficando um tanto quanto confuso na sua linha cronológica.

Diane e sua prima em um quarto de hospital jogando cartas
A Vida de Diane – My French Film Festival.

O que salva Kent de cair em erros cascudos é a atuação de um elenco afiadíssimo, em especial Mary Kay Place, a protagonista do longa. Mary abraça a apatia de Diane, mas consegue perpassar pelas facetas da personagem conforme enfrenta os momentos de seus dias. A atriz aprofunda Diane com bastante realidade, fugindo de caminhos básicos para uma construção bem sucedida.

Mary tem a façanha de entender Diane como um ser humano, longe de uma possível demonização. Aqui vemos uma atriz que abraça a personagem, entende suas motivações com clareza.

No fim das contas, A Vida de Diane é um bom filme dramático e com atuações sólidas. Mesmo com alguns deslizes, Kent Jones consegue firmar uma boa estreia lançando um filme estranho, mas ao mesmo tempo chocante. É difícil ver um filme como A Vida de Diane, mas é tão bom encontrar e repousar diante uma atmosfera tão tensa.

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Riuler Luciano
Riuler Luciano

Jornalista Cultural e Marketeiro, cresceu lendo quadrinhos dos X-MEN é amante de Cultura Pop e Pequi!

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