Crítica | A ousadia do artista que construiu ‘O Império de Pierre Cardin’

(Escrito por Roberto Costa) Lançado virtualmente em agosto de 2020, O Império de Pierre Cardin (House of Cardin), de P. David Ebersole e Todd Hughes, vem para contar um pouco do artista que, aos 98 anos, continua trabalhando. O filme volta ao passado de Pierre Cardin e mostra como sua genialidade, ousadia e criatividade inovaram o mundo da moda e ajudaram a popularizar o acesso a esse mundo.

Italiano de origem e o mais novo de 9 irmãos, seus pais perderam tudo na Primeira Guerra Mundial e decidiram emigrar para a França em 1924. Pierre Cardin começou a aprender alfaiataria aos quatorze anos na cidade de Saint-Étienne para, em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, transferir-se para Paris onde estudou arquitetura e trabalhou com Madame Paquin.

Pierre Cardin também trabalhou com Elsa Schiaparelli antes de se juntar a Christian Dior, mais tarde tornando-se seu alfaiate principal. Um autodidata transformador que impactou com suas criações modernistas e “estranhas” numa época em que a moda era só elegante. O documentário mostra suas inspirações na Era Espacial, quando o estilista utilizou-se de formas geométricas frequentemente para ignorar a forma feminina que era muito utilizada nas vestimentas da época.

Tido como um “Imperador“, Cardin foi um dos primeiros artistas a ir para a Índia, o Japão e a Rússia num esforço de levar sua arte para o máximo de pessoas possíveis, buscando democratizar o acesso à moda. Chegou até mesmo a realizar um desfile de moda na Muralha da China, cujas filmagens presentes no documentário impressionam.

A mente de Cardin

Vindo de um artista que negou-se a ter uma biografia escrita, O Império de Pierre Cardin é sólido em contar a vida do Imperador, aprofundando-se em suas criações e as ideias que o inspiraram a inovar em peças dignas de clipes de música e cinema.

Construído com uma narrativa que alterna entre histórias do passado e detalhes do presente do estilista, o documentário conta com participações de grandes estrelas tanto das passarelas, quanto do cinema que tecem comentários de admiração por Cardin e não hesitam em exaltar o brilho da mente do homem que, além de ser um dos primeiros a vestir famosos, não se esquece de levar a moda para um lugar mais acessível.

O longa também acerta em sua trilha sonora, com músicas que marcam um ritmo alternado entre a atmosfera da alta costura parisiense e a modernidade estranha que transborda das criações de Pierre e suas inspirações pop culture. Isso ajuda o espectador a chegar perto de um entendimento sobre a beleza e profundidade de suas peças.

Apesar de toda estranheza dos designs, Pierre Cardin é enfático quando diz que seu objetivo era fazer roupas para serem vestidas no dia-a-dia. O documentário aprofunda-se nesse tema e em como Cardin foi inclusive expulso da associação francesa de estilistas por ter criado uma coleção para loja de departamentos.

Mas é perceptível como uma questão se esconde na sombra do documentário: Qual o limite? Até onde é aceitável ir enquanto imprime sua marca em absolutamente todas as coisas possíveis?

O Império de Pierre Cardin é exitoso ao imergir na história do artista, na construção de seu império e nas dificuldades que enfrentou numa época em que a inovação ainda era rejeitada. O documentário é uma produção artística inspiradora que conta a história ainda mais inspiradora do artista cujas ideias viraram pilares da moda.

Mas, apesar de tudo, ainda é notável como o documentário deixa de lado a vida pessoal de Cardin, o que causa um certo estranhamento. Vemos o mergulho na história do estilista – até somos levados a casa onde passou a infância – mas não sabemos mais da vida pessoal, seus amores e envolvimentos românticos.

O filme conta com participações de Jean-Paul Gaultier, Naomi Campbell, Sharon Stone, Alice Cooper e Dionne Warwick, além do próprio Pierre Cardin, que aos 98 anos não perdeu o humor e aparece brilhante.

O Império de Pierre Cardin poderá chegar nas salas de cinema, dependendo da situação da pandemia. Enquanto isso, o filme está disponível no site oficial do Feed Dog Brasil até as 22h de hoje (18). Corra lá para assistir!

Conteúdo relacionado:

• Festival de documentários de moda traz filmes inéditos e reflexões sobre indústria fashion

O Feed Dog – Festival de Documentários de Moda nasceu em 2015 em Barcelona, chegando ao Brasil em 2017 e vem propor um olhar em 360° do mundo da moda e suas questões sociais e ambientais. Na edição de 2020 o Feed Dog Brasil traz 15 filmes e 7 mastertalks com diferentes temas e participações especiais.

E se você gostou do nosso conteúdo, apoie-nos através das nossas redes sociais e acompanhe nosso podcast