Crítica | A Garota da Foto: quando o cinema não dá conta de recontar uma história

Documentário busca contar o mistério por trás de uma garota encontrada morta
Close de uma garota com um homem mais velho não identificado ao fundo. Foto de divulgação da Netflix - Otageek
Reprodução: Divulgação/Netflix

É abril de 1990 em Oklahoma City. Alguns homens dirigem um caminhão pela estrada, onde encontram um corpo em meio ao acostamento. A garota encontrada é levada ao hospital. Seu marido, Clarence, aparece. Ele alega que sua esposa se chama Tonya Hughes e é striper em Tulsa, onde tem um filho chamado Michael. 

Ao examinarem o corpo, os médicos encontram lesões antigas. O marido é estranho e mais velho, bem como a própria situação. A suposta Tonya acaba morrendo. As garotas que trabalhavam com ela encontram o número da sua mãe. Ligam e contam que a filha morreu. E ela diz: “Do que está falando? Minha filha morreu há 20 anos. Ela só tinha 18 meses”. Agora as amigas se perguntam: “O que houve? E quem é essa garota?”. 

Esta é a premissa de A Garota da Foto, documentário do gênero True Crime (Crimes Reais, em tradução livre). Dirigido por Skye Borgman, também responsável por Sequestrada à Luz do Dia, outra produção do mesmo gênero, o documentário está disponível na Netflix.

Em ambas as produções há características comuns. Igualmente causam revolta, além dos elementos inusitados. São duas histórias de crianças que foram tiradas à força do seio familiar. 

Em A Garota da Foto, os acontecimentos avassaladores e brutais, assim como de Sequestrada à Luz do Dia, são existentes. São histórias que ultrapassam o fictício, intrínsecas no espantoso. Nas duas ocasiões, as identidades das vítimas são distorcidas de formas distintas. De um lado, uma garota vítima de sequestro e violência sexual. Do outro, uma garota vítima de lavagem cerebral por um manipulador. A diferença é que em A Garota da Foto a história não foi recontada da forma que a vítima merecia. 

O cinema, muito mais que um gerador de entretenimento, é o lugar onde é possível dar voz àqueles que não a possuem mais. Com ele, há a possibilidade de recontar/contar histórias, fictícias ou reais. Em A Garota da Foto, diferente de outras produções, Borgman não dá conta. 

As revelações que compõem o crime, e que estão presentes a todo instante, deveriam ser pontos-chave na narrativa. Pelo contrário, se tornam grandes pedras no caminho, visto que não foram aproveitadas da forma que mereciam. Percebe-se, assim, que o roteiro não dá conta de transmitir as descobertas feitas pelos investigadores, de forma que as informações passam despercebidas, bem como se tornam confusas. 

O formato escolhido na construção da narrativa do documentário foi o tradicional. Por meio de depoimentos de profissionais, de amigos da vítima, bem como recapitulações dos ocorridos, pôde-se delimitar uma linha do tempo. A problemática aqui é a condescendente generalidade eleita para contar uma história que contém tantas reviravoltas e informações maçantes.

A direção tenta usar dramatizações acompanhadas da voz off para recriar fatos ocorridos, seja nas investigações, seja durante o período do crime, a fim de auxiliar o telespectador no bom entendimento do caso. O ato não funciona. É insuficiente para dar conta de acontecimentos de tamanha abrangência. 

Mesmo diante de certas falhas da direção, é inegável afirmar as questões que a produção proporciona. Tendo como fio condutor a busca pela identidade verdadeira da suposta Tonya Hughes, bem como quem foi o responsável pelo homicídio, surgem outras indagações ligadas ao complexo histórico do crime. Mudanças de nomes, violência sexual, sequestro e pedofilia são os elementos que estão aglutinados, conforme as descobertas da investigação, e que geram discussões além das telas. 

Por fim, A Garota da Foto é uma história que nos permite traçar drásticas suposições, a fim de pensar que o fim da vida da garota poderia ter sido diferente, se as escolhas tivessem sido outras – bem como nossas vidas pessoais. Também é necessário, assim como grande parte do gênero True Crime, que permite trazer a sociedade a sensibilização com as vítimas, bem como repensar a forma pela qual esses crimes são tratados e retratados. É uma forma de recontar uma história que foi deixada para escanteio e relembrar a memória daqueles que foram vítimas brutais. A realidade é triste, massacrante e incrédula. 

Leia também:

E se você gostou do nosso conteúdo, apoie-nos através das nossas redes sociais e acompanhe nosso podcast

Facebook RSS Youtube Spotify Twitch


Receba conteúdos exclusivos!

Garantimos que você não irá receber spam!

Compartilhe essa matéria!
Isabella Breve
Isabella Breve

Graduanda em Jornalismo, leitora voraz, amante da Sétima Arte e eternamente fã.

Artigos: 371
Se inscrever
Notificar de
guest
4 Comentários
Mais velho
Mais novo Mais votado
Feedbacks em linha
Ver todos os comentários

[…] Crítica | A Garota da Foto: quando o cinema não dá conta de recontar uma história […]

[…] Crítica | A Garota da Foto: quando o cinema não dá conta de recontar uma história […]

[…] Crítica | A Garota da Foto: quando o cinema não dá conta de recontar uma história […]

[…] Crítica | A Garota da Foto: quando o cinema não dá conta de recontar uma história […]