Conheça Pants Quest, o jogo onde a missão é encontrar… suas calças!

Pants Quest, já começa a chamar a atenção pelo nome: “A Jornada pelas Calças”. Trata-se de um adventure point-and-click que retrata uma aventura extremamente banal mas que mostra o quão aventuresco é o cotidiano. A jornada de um operador de telemarketing atrasado para o seu emprego porque não consegue encontrar suas calças e, quando as encontra, percebe que estão imundas.

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Dave (o protagonista) não pode sair pra trabalhar, sua esposa está fora de casa e ele não tem a quem recorrer nem nenhuma companhia, à exceção de seu gato, que o acompanha ao longo do jogo e sempre para aos seus pés quando paramos de percorrer a casa. Com medo de sair nu, a história nos lembra o conto de Fernando Sabino, O Homem Nu, sendo que Dave teve mais sorte do que o protagonista brasileiro. 

A ideia de se estar nu em um sonho ou ao menos sem a parte debaixo das roupas é comum e até motivo de estudo em sessões psicanalíticas, revelando desconforto e insegurança incutidos no inconsciente. Laerte chegou a retratar isso em uma de suas tirinhas. Também Alan Moore em Providence, a terceira minissérie de sua trilogia que começou com O Pátio.

Dia chuvoso e Dave acorda, doido pra estar em sua cama e acorda a contragosto porque tem de ir trabalhar. Todo arrumado da cintura para cima, a única coisa que falta são… as calças. E onde elas estão? Bem, todo mundo acorda de mau humor e não consegue nem ao menos pensar sem antes ter aquela dose de café. E isso constitui o primeiro desafio do jogo. 

E fazer café é uma coisa muito simples, assim como tostar as torradas. O problema é que o copo cai no chão e quebra, a torrada faz jus ao seu nome e realmente torra. O mundo parece estar contra Dave e as coisas simples do cotidiano se mostram deveras difíceis para o protagonista.

E essa é a mensagem incutida por trás desse simples point-and-click: a ideia de estar sem as calças já nos mostra que sua vida e sua organização estão deixando a desejar, mas mais do que isso, mostra o quanto o protagonista está em desalinho consigo mesmo.

Adventure com verbos

O jogo tem uma estética retrô proposital, não apenas por ser independente, e é um prato cheio para os saudosistas do gênero. o “traço” (digamos assim) quadriculado e o fato de ser um adventure com verbos (os famosos pick up, look at), etc. como eram os jogos do gênero antes dos saudosos The Legend of Kyrandia e Darkseed, os primeiros a inaugurar o estilo sem verbos. 

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A única coisa louvável no jogo é o gato, que está ali não apenas como mascote do personagem, mas da própria desenvolvedora, a Ghost Cat Games. Ele segue o personagem durante todo o jogo e, assim como os antigos games cujo protagonista avisa ao jogador que ele está perdendo tempo, batendo no relógio enquanto olha para o espectador de cara feia ou até mesmo batendo na tela, o gato o faz de forma tranquila, simplesmente se aprochegando e deitando felinamente aos pés do personagem para dormir.

Aqui, temos apenas 4 opções e um pequeno inventário como vocês podem ver nas fotos. O elemento inovador em relação aos jogos antigos fica por conta dos achievements e do mini game presente no jogo. Gamers mais velhos vão se lembrar do clássico Ecco The Dolphin.

O problema é que, independentemente de ser independente, os efeitos sonoros são horríveis e isso independe da pouca quantidade de recursos gráficos e sonoros, mas, por exemplo, da fala desnecessária para mostrar o que o personagem tem em mente. E não me refiro aos balões, mas à voz de Dave que balbucia algo ininteligível, para que ficasse “compreendido” em qualquer idioma. Um recurso inteligente utilizado pela Amanita Design, mas que aqui não funciona.

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A dificuldade é boa, mas o jogo em si trata de uma coisa tão corriqueira e banal que o torna praticamente desnecessário, a menos que fosse algo educativo, o que não é o caso (ainda bem, por sinal).

A ideia de se clicar nos verbos para depois clicar no objeto é “das antigas” e isso não chega a comprometer a dinâmica já que os antigos eram assim. Mas a forma como isso foi inserido no jogo torna todo o gameplay chato e maçante e é difícil ter vontade de jogá-lo até o final. 

Resta saber agora se desenvolvedora fará novos (e melhores) jogos. A Ghost Cat já provou com Pants Quest que sabe fazer adventures. Só falta dar um salto e ser mais ousada em suas próximas criações.

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