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Análise | Wonka celebra o trabalho em equipe (sem spoilers)
Wonka, novo filme inspirado no clássico livro de Roald Dahl, não só traz uma estética mágica, mas celebra o trabalho em equipe, na frente e atrás das câmeras.
Wonka é o tipo de filme que já causou questionamentos desde que o projeto foi anunciado. Essa produção traria um protagonista semelhante aos das versões de A Fantástica Fábrica de Chocolate, de 1971 e de 2005, ou apresentaria uma nova perspectiva para o famoso chocolateiro do livro de Roald Dahl? E a escolha do longa ser um musical protagonizado por Timothée Chalamet também causaram preocupações.
Mas felizmente o projeto esteve em boas mãos. Dirigido por Paul King (Paddington), que repete a parceria no roteiro com Simon Farnaby (realizada em Paddington 2), o filme mostra a chegada do jovem Willy Wonka (Timothée Chalamet) em uma cidade grande, buscando a tão sonhada oportunidade de vender seus chocolates. E logo no início a produção mostra, de maneira bem humorada, que naquele lugar nem sonhar sairia de graça.
Dessa forma, nos primeiros minutos já dá para sentir qual é a atmosfera do filme. O carisma do protagonista inocente e sonhador, o humor leve e a magia traduzida pela direção de arte, assinada por Nathan Crowley, trazem uma sensação de conforto para quem o assiste. E os números musicais não atrapalham, pelo contrário, elevam a narrativa, ao referenciarem números da Broadway e clássicos do cinema, como Mary Poppins (1964) e O Mágico de Oz (1939). Essa é uma produção tão apaixonada e com tanto cuidado aos mínimos detalhes quanto o seu protagonista.
No entanto, não dá pra dizer que não há tropeços por aqui. A interpretação de Chalamet, apesar de muito boa, perde um pouco o brilho nas relações com personagens secundários, principalmente com o incrível Oompa-Loompa (Hugh Grant). Apesar de não ter uma grande potência vocal, o ator não decepciona cantando, exceto em sua interpretação de “Pure Imagination”. E a maneira como os chocolates Wonka são representados visualmente não deixa água na boca.
Mas isso são detalhes muito pequenos se comparados a todos os pontos positivos da produção. A escolha da data de lançamento também não poderia ser melhor: o tom mágico e a mensagem de esperança combinam perfeitamente com a proximidade do Natal. Além disso, ao trazer um Willy Wonka menos sombrio e piadas (em sua maioria) de fácil compreensão, o longa é perfeito para públicos de todas as idades, e tem tudo para se tornar um clássico, tal qual os filmes anteriores.
Outro detalhe que chama muito a atenção em Wonka é como as cores dos figurinos ganham um grande valor narrativo. Seja como símbolo de distinção social, ao mostrar os moradores comuns da cidade com roupas acinzentadas e os três vilões mestres-chocolateiros com vestimentas coloridas, ou para sinalizar mudanças de humor do protagonista, que aparece com seu figurino cheio de cores quando está alegre e cinza quando está sem esperanças ou lavando roupas no hotel da Senhora Scrubbit (Olivia Colman). Ótima sacada de Paul King e da figurinista Lindy Hemming (Batman: O Cavaleiro das Trevas).
A direção de fotografia de Chung-hoon Chung (Noite Passada em Soho) também é certeira, e tem papel fundamental na criação de certas piadas do filme. Mas Wonka vai além do humor leve, com sátiras a corrupção de policiais e de figuras religiosas, e a própria crítica dos mestres-chocolateiros à criação do protagonista pode ser interpretada como uma cutucada na forma de se fazer cinema.
Apesar do roteiro seguir a clássica “jornada do herói”, o Willy Wonka de Chalamet é tão cativante que faz com que o público queira segurar a sua mão e viajar com ele e seus amigos na busca pelo seu sonho. E a própria narrativa de jovem que acabou de chegar na cidade grande procurando por melhores oportunidades é fácil de se identificar, por ser semelhante a histórias da ficção e da vida real.
Wonka não é só um filme tão grandioso quanto o seu protagonista. É um trabalho que simboliza bem a ideia de trabalho de equipe. Seja na frente das câmeras, com os personagens secundários ajudando o protagonista a crescer, ou por trás delas, na sintonia das equipes técnicas com o diretor, nada aqui é feito sozinho. Como escrito atrás do chocolate que Willy Wonka recebeu de sua mãe (Sally Hawkins), “o segredo não é o chocolate, o que importa são as pessoas com quem o divide”, o mesmo pode ser dito sobre esse longa. Afinal, o segredo de um bom filme está nas pessoas que dividem a sua produção que, neste caso, mostram que não há motivos para questionamentos ou preocupações.
Wonka já se encontra em exibição nos cinemas.
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