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Análise | The Last of Us 1×07: Poeticamente enlouquecer juntas
ATENÇÃO! A análise contém SPOILERS do sétimo episódio da primeira temporada de The Last of Us!
O episódio 7 de The Last of Us segue a mesma ideia do episódio 3 e leva Ellie para o passado enquanto Joel alterna entre a vida e a morte.
Ellie e Joel se abrigam em uma das casas de uma vizinhança abandonada em meio à neve, e ela se vê numa situação de desespero e com um Joel à beira da morte. Na indecisão entre largar Joel e procurar ajuda, ou ficar e tentar achar uma solução, Ellie relembra de acontecimentos anteriores.
Vamos para o passado, na “escola” da FEDRA. Ellie, após uma briga com uma de suas colegas, é enviada para “diretoria” onde ocorre um diálogo sobre o futuro dos jovens sob a tutela da FEDRA e a futura distribuição de hierarquia (Ellie supostamente seria uma das possíveis líderes, se mudasse de comportamento). Segundo o capitão, a FEDRA que ainda sustenta a ordem da ZQ (ideia questionável, como já visto nos episódios anteriores).
Não importa o que os outros digam ou pensem, nós sustentamos todo o resto. Sem nós, o povo da ZQ vai morrer de fome ou matar. Eu sei disso.
Capitão da FEDRA dando sermão na Ellie
Cortamos para Ellie em seu quarto, um toque de recolher é feito à noite. No meio da madrugada, ela é surpreendida com sua amiga Riley (Storm Reid) que havia fugido do alojamento. Riley, recém integrada na resistência dos Vagalumes, chama Ellie para “completar uma missão” pela zona de quarentena.
O quarto de Ellie é muito interessante, visto que exibe bastante seu interesse sobre o espaço sideral no geral. Há pôster de alienígenas, desenhos de naves espaciais, uma HQ com a temática, imagens das fases da lua, etc.
Acho essa próxima sequência da fuga do alojamento importante, porque a gente percebe que mesmo sendo sagazes e inteligentes, as duas são inexperientes e imaturas, de certo modo. Elas ingerem bebida alcoólica enquanto tentam ser sorrateiras e são curiosas com coisas sem necessidade (o que as faz dispersar do objetivo principal).
Não é um defeito esse descuidado, ele só demonstra as duas sendo pessoas jovens e audaciosas, elas agem como as adolescentes que devem ser. E, novamente, agir de um modo que esse mundo não permite, ao meu ver, é uma forma de resistência contra a sociedade pós-apocalíptica (assim como o amor e o cuidado com o lar de Bill e Frank, aliado aos desenhos de Sam e Henry para embelezar o refúgio).
Vale destacar o belíssimo CGI feito na cena de ativação das luzes do shopping, construindo um ambiente iluminado e chamativo, artificialmente, que contrasta totalmente com o espaço urbano retomado pela natureza que é recorrente na série.
O episódio, em sua maior parte, pode ser dividido em cada atração que Riley planeja no “rolê” do shopping.
Ellie fica maravilhada com coisas que seriam “banais” para uma porção grande de pessoas hoje. Porém esses momentos são bons para relembrar que ela não conheceu nada do mundo pré-apocalipse (diferente de Riley que já aparenta conhecer mais, através de relatos de sua mãe).
Penso que é interessante a ideia da escada rolante e do comentário admirado de Ellie acerca do objeto.
— Não acredito! Olha isso! É irado demais! Pra trás. Pra frente e pra trás. Sem sair do lugar. Estou parada.
Comentário de Ellie ao brincar de subir e descer na escada rolante
Talvez seja só um comentário descompromissado e descritivo sobre a função de uma escada rolante, porém faz referência à situação atual e contínua que ela passa. Assim como Joel, Ellie também é presa em traumas (no caso, a perda de todos que ela conhecia), além disso, ela não sabe como lidar com a situação de um Joel semi-morto.
Ellie, neste momento, está parada enquanto tudo ao redor dela se movimenta (até ela mesma). A mente dela está presa no medo de perder uma pessoa que ela se importa e focada em acontecimentos passados. Enquanto isso, o mundo continua se movimentando e o tempo corre.
O carrossel pode representar a mesma ideia da escada rolante, tudo se movimenta enquanto as pessoas ficam paradas em cima de um brinquedo.
A química entre as duas é mostrada e construída sutilmente, de trocas de olhares admirados até um simples e discreto arrumar de cabelo (algo que, cá entre nós, seria um dos menores problemas no mundo devastado, portanto, é uma ação que denota preocupação em passar uma boa impressão para Riley).
Uma outra atração planejada por Riley no shopping é a cabine de máquina fotográfica. Uma pergunta de Ellie, se a cabine era uma “máquina do tempo” traz uma reflexão intrigante, pois se analisarmos com cautela, uma foto é uma forma de gravar situações. Quando olhamos uma fotografia, viajamos para esse momento passado (claro, se o mesmo estiver em nossa memória), portanto, é uma máquina do tempo.
O próximo destino é o Raja’s Arcade que, segundo Ellie:
— É a coisa mais linda que já vi!
Ellie sobre o arcade
O fliperama passa a mesma impressão do edifício em si, contraste entre natural e artificial. Contudo, uma camada adicional que explica a fascinação de Ellie por essa atração específica é apresentada. Tudo lembra, de alguma forma, a decoração do quarto dela, uma fuga da realidade através dos fliperamas (assim como ir pro espaço).
Os gritos e risos acordam um infectado “adormecido”. Novamente, dando o significado de que esse mundo do Cordyceps não permite esses tipos de expressões alegres, ele impõe violência e desconfiança sobre as relações.
Riley e Ellie vão em direção ao “show final”. Ellie descobre que o papel de Riley nos Vagalumes é o de confeccionar bombas caseiras. Um conflito de ideias e indecisões ocorre.
De um lado, Ellie influenciada pela ideia ilusória de ordem da FEDRA (ressaltando que Ellie ainda é muito resistente à qualquer ensinamento da FEDRA, mas influenciada mesmo assim) e, de outro lado, Riley com o pensamento ingênuo de que os Vagalumes levariam a opinião dela em conta (Riley é novata no grupo).
Inclusive, aqui surgiu o livro de piadas de Ellie, “No Pun Intended”. Foi um presente de Riley.
O breve desentendimento leva a um clima de distanciamento e tristeza (Riley vai ser transferida para outro posto dos Vagalumes, fora da ZQ) na noite de despedida. A última parte do “rolê” é dançar usando máscaras, ao som de música alta. O êxtase do momento chega ao ápice com um beijo entre as duas.
O infectado previamente despertado acorda e ataca as meninas. Tal qual todas as lutas com infectados da série, alguém saiu prejudicado do conflito. As duas foram mordidas, o destino imparável foi traçado para as duas (aparentemente).
— Todo mundo vai terminar assim, cedo ou tarde, né? Acontece mais rápido para alguns. Não vamos desistir. Sejam dois minutos… ou dois dias. Não vamos abrir mão. Não quero abrir mão. A gente pode poeticamente acabar enlouquecendo juntas.
Monólogo final de Riley para Ellie
O flashback acaba. Ellie não quer ver mais alguém morrer nas mãos dela. Na agulha e na linha se encontram duas coisas: a salvação do machucado abdominal de Joel e a determinação de Ellie ao seguir em frente.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde e procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.Eu possa me dizer do amor (que tive)
Trechos do poema “Soneto de Fidelidade” de Vinicius de Moraes
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Novos episódios de The Last of Us são exibidos todos os domingos às 23:00 exclusivamente na HBO, e disponibilizados na plataforma de streaming HBO Max.
Confira o trailer do oitavo episódio de The Last of Us:
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