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Análise | “A Casa do Dragão” 2X03: O Moinho Ardente
ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR NÃO É UMA CRÍTICA DO EPISÓDIO, APENAS COMENTÁRIOS
“Em breve, nem se recordarão do motivo desta guerra”, atesta sabiamente o roteiro de “A Casa do Dragão”, uma mensagem que tem sido difundida desde o início da segunda temporada por meio de figuras sábias. Quando o desejo de matar se instaura, os motivos que deram início ao banho de sangue são esquecidos, assegura prudentemente Rhaenys. O olho de Aemond? A usurpação do trono pelos Verdes? A morte de Lucerys? A morte de Jaehaerys? A essa altura, os fatos se tornam sombras irrelevantes; o que resta é apenas o desejo voraz de matar, que arde como um fogo inextinguível.
Embora os confrontos diretos entre Pretos e Verdes ainda não tenham começado, as reverberações da guerra já se espalharam por Westeros. Alguns, por exemplo, usam a disputa como pretexto para consolidar seus conflitos do passado. O início do terceiro episódio, que foi ao ar no último domingo (30/06), trouxe à tona uma batalha sangrenta entre as Casas Bracken e Blackwood, rivais por questões do passado e oponentes na guerra entre Pretos e Verdes. A batalha, porém, não foi mostrada. Ainda assim, a escolha de utilizar outros recursos na cena em questão, estratégia adotada pela direção – como o ato de não mostrar o assassinato de Jaehaerys pelos caçadores de ratos, por exemplo, – surte impacto violento semelhante ao ato de mostrar, uma vez que o uso de certos recursos ajudam a reforçar tal efeito. Na batalha entre os Bracken e Blackwood, há um diálogo acirrado de ambas partes e, posteriormente, a cena é cortada e uma espada é avistada no corpo de um dos membros dos Bracken, e pouco a pouco a câmera se distancia, preparando-nos progressivamente para o impacto de contemplar a carnificina que ocorreu naquele local.
Em King’s Landing, Ser Criston Cole chega atrasado à primeira reunião do conselho como a Mão do Rei, tentando exibir seu poder para o restante dos presentes quando, na verdade, seu atraso foi resultado da ansiedade e intimidação da reunião. Seu plano, apresentado no último episódio, não vingou. Agora novas ideias são introduzidas pela Mão do Rei, que pretende reivindicar territórios e conquistar o apoio do restante do reino. Aegon, mais uma vez determinado a demonstrar seu poder, insiste em acompanhar Cole na empreitada, mas é convencido por Larys Strong a não partir imediatamente para a batalha. Larys afirma que muitos veem sua partida como estratégia de Aemond e Alicent para governar na sua ausência.
Imprestável ao papel que foi lhe concedido, Aegon parte para um prostíbulo com seus capangas. Uma verdade é clara: Aegon não inspira temor, e nem mesmo sua Mão está à altura do cargo. Do outro lado do reino, Rhaenyra se dá conta do perigo que sua família corre e, assim, pede para que Rhaena, filha de Daemon e Laena, parta com seus dragões menores e seus três filhos mais novos para Pentos, na missão de protegê-los e garantir o futuro da família. Rhaena também parte com quatro ovos de dragão, que na série são os mesmos ovos que Daenerys é presenteada quase 160 anos depois dos acontecimentos narrados em “Game of Thrones” (2011-2019), indo na contramão do que é contado nos livros.
Assim, Rhaenyra sofre em silêncio pela partida dos filhos, sem imaginar quando ocorrerá o próximo encontro com eles. Rhaenys e Rhaenyra são postas em paralelo: a Rainha Que Nunca Foi e a Rainha com o trono usurpado. Ambas sábias, mas têm seu poder reivindicado e criticado pelos homens. É Rhaenys quem sugere que Rhaenyra tente resolver os conflitos com Alicent, numa tentativa de precaver a iminente destruição que vem surgindo, a qual será responsável por exterminar os dragões por séculos e por eliminar praticamente a Casa Targaryen.
No terceiro episódio, Daemon ressurge reivindicando Harrenhal, que se encontra em condições semelhantes às dele: abandonado, intimidante e obscuro. Lá, entretanto, ele exige ser chamado de Rei ao invés de ocupar a posição ao lado de Rhaenyra. Quando se recolhe para dormir, é interrompido por uma visão mais jovem de Rhaenyra, interpretada anteriormente por Milly Alcock, com o pequeno Jaehaerys no colo, dizendo-lhe sempre precisar a bagunça do tio, o que poderia tanto ser os arrependimentos alcançando a mente de Daemon quando as consequências destrutivas dos seus atos na batalha entre as famílias. Posteriormente, ele acorda e está em pé na frente da Árvore Coração (um símbolo espiritual desse universo) e uma mulher atrás dele diz: “você vai morrer neste local”.
Enquanto o lado dos Verdes vem tomando decisões desde o primeiro episódio, o cenário é oposto para os Pretos. Rhaenyra, pressionada pelo conselho, vê a iminente chegada da guerra, porém parece negar o banho de sangue iminente. Ouvindo os conselhos de Rhaenys e com a ajuda de Mysaria, que salvou sua vida no episódio anterior, parte para King’s Landing se passando por uma septa, com o intuito de adentrar os portões da Igreja e conversar com a velha amiga. Rhaenyra, na verdade, vem adiando as decisões do conflito por querer entender e impedir a guerra, uma vez que nem mesmo ela se lembra do motivo de estar lutando, ainda que a usurpação do trono por Aegon seja mencionada.
A cena culmina no ponto principal do episódio, abrindo margem para explorar a relação entre ambas através de respostas às problemáticas que vinham ocorrendo desde a última temporada. Quando se encontram, Alicent afirma para Rhaenyra que Viserys mudou sua opinião sobre o herdeiro ao trono e teria desejado que Aegon ocupasse o lugar. Portanto, por um momento, Rhaenyra precisa lidar com a suposta ideia de que seu pai tenha mudado de opinião a seu respeito. Sem diálogos, as falas são expressas pela da feição de Rhaenyra. Continuando a conversa, a líder dos Pretos insiste, e Alicent diz que Aegon é o Príncipe Prometido. Rhaenyra, no entanto, ouviu de seu próprio sobre o Príncipe na profecia da Canção de Gelo e Fogo, mostrada na última temporada. Assim, Rhaenyra conta a Alicent que a profecia não era sobre Aegon, O Usurpador, mas sim sobre Aegon, O Conquistador. Novamente, as falas são demonstradas por meio das feições, mas agora é a vez de Alicent. Percebendo que estava enganada, ela se dá conta de que não tem mais o poder de antes e que as decisões já foram tomadas. “É tarde demais”, diz Alicent a Rhaenyra. Em um misto de emoções, por meio de um close final, Rhaenyra cede a aceitação e a iminente chegada das escolhas que precisarão ser feitas. Creio que este seja o fim do resquício de simpatia entre ambas. Cedo ou tarde, o porquê do sangue se dissipará na memória. Talvez esse tempo já tenha chegado.
“A Casa do Dragão” vai ao ar todos os domingos às 22h na HBO e na Max.
Confira a prévia do próximo episódio de “A Casa do Dragão”:
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