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A ascensão do terror negro
Recentemente, a Netflix lançou o filme de terror mais aclamado do ano, His House, que conta a história de um jovem casal refugiado do Sudão do Sul. Eles foram devastados pela guerra e pobreza, buscando formas de se adaptar em uma nova vida, numa pequena cidadeda Inglaterra. Poucas semanas antes, ainda, a plataforma também havia lançado o terror infanto-juvenil Vampiros x The Bronx como parte do especial de Halloween do streaming.
Ambos os filmes são focados em críticas sociais relacionadas a vivências negras, possuindo elencos formados majoritariamente por pessoas pretas, com o público alvo direcionado para minorias pretas.
Pode-se perceber que o gênero do terror está abraçando pessoas negras após um longo histórico problemático de raça, principalmente nos slashers, que sempre matavam os personagens negros em algum momento da trama… isso quando já não eram os primeiros perseguidos.
Mas como o terror negro ganhou esse levante?
Há alguns anos, Jordan Peele fundou sua companhia, Monkeypaw Productions, tendo como primeiras produções apenas Key and Peele, programa de esquetes com seu parceiro de negócios Keegan-Michael Key, e o filme Keanu, de 2016. Porém, em 2017 ele resolveu lançar sua estreia na direção com Corra!, que resultou em um Oscar de Melhor Roteiro Original, sendo também o primeiro filme de terror concorrente ao Oscar de Melhor Filme desde Cisne Negro, em 2011.
Corra! ficou muito popular na internet, mesmo tendo tido uma estreia bem modesta aqui no Brasil, sendo reexibido novamente na temporada do Oscar.
Antes do filme de Peele chegar aos cinemas, poucos filmes de terror eram voltados para pessoas negras. Muitos até foram esquecidos pelo tempo mesmo sendo filmes incríveis, como foi o caso de O Mistério de Candyman.
Depois de Corra!, o diretor então voltou aos cinemas com o enigmático Nós, que também chegou a ser um grande sucesso de bilheteria e tornou-se igualmente popular entre o público. Porém, este não chegou ao Oscar e acabou levando a algumas polêmicas raciais pela esnobada que Lupita Nyong’o levou, mesmo tendo sido uma das atrizes mais premiadas do ano passado em associações de crítica.
Pouco tempo depois, a Monkeypaw Productions anunciou uma sequência para O Mistério de Candyman, tendo Nia DaCosta como diretora ao invés de Peele. Ela tem a liberdade criativa em suas mãos, de acordo com a própria.
Além destes, também tivemos O Mistério da Ilha, estrelado por Kiersy Clemmons, A Escolhida, estrelado por Janelle Monáe, Ma, feito por Octavia Spencer, e A Primeira Noite de Crime, dirigido por Gerard McMurray, bem como His House e Vampiros X The Bronx, já citados.
Vale também citar que antes de Corra!, filmes como Tales From The Hood, Ganja & Hess, Blade, As Criaturas Atrás da Parede, Sugar Hill e Blácula são exemplos de terror centrados em pessoas negras que podem se considerar clássicos.
Enquanto isso, no Brasil, também temos alguns casos mais recentes, como Bacurau e As Boas Maneiras. Um mostra o massacre de uma população predominantemente negra e nordestina nas mãos de um povo branco e americano, e o outro mostra a relação entre uma doméstica preta e sua patroa branca.
A série Lovecraft Country também foi o centro das atenções nas noites de Domingo, tendo abordado temas sociais importantíssimos sobre a cultura negra dos anos 50 em Chicago, mas que refletem até hoje na cultura moderna, dando novos significados ao pensamento de Lovecraft, um autor abertamente racista.
O fato do terror excluir a narrativa negra de seus filmes é, no mínimo, contraditória, tendo em vista que grande parte da população preta sofre terror diariamente nas mãos de forças maiores, como foi contestado esse ano pelo protestos do Black Lives Matter e o Vidas Pretas Importam, aqui no Brasil.
Jordan Peele também já falou em uma entrevista para o documentário “Horror Noire” que o fato de pessoas negras não estarem sendo representadas no cinema de horror é o terror em sua forma mais verdadeira.
O gênero tem estado em um momento renovador, expandido-se para diferentes meios, como a TV, e também trazendo filmes novos baseados em movimentos antigos do cinema, como é visível em Peele. O diretor tem inspirações no antigo cinema de horror negro, mas agora dando oportunidades novas para criadores pretos terem mais chances de contar suas histórias, sendo este o caso de Misha Green e Nia DaCosta.
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